A.essência do serviço ao Senhor é uma releitura do do capítulo 5 do livro “The Representation of the Invisible God”, de T. Austin-Sparks. É importante salientar que não se trata de uma tradução do texto original, podendo conter divergências em relação ao entendimento original do autor.
“Maria, entretanto, permanecia junto à entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, abaixou-se, e olhou para dentro do túmulo, e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira e outro aos pés. Então, eles lhe perguntaram: Mulher, por que choras? Ela lhes respondeu: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Tendo dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus. Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, supondo ser ele o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, lhe disse, em hebraico: Raboni (que quer dizer Mestre)! Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. Então, saiu Maria Madalena anunciando aos discípulos: Vi o Senhor! E contava que ele lhe dissera estas coisas” (João 20:11-18).
“Estavam ali muitas mulheres, observando de longe; eram as que vinham seguindo a Jesus desde a Galiléia, para o servirem; entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mulher de Zebedeu. Achavam-se ali, sentadas em frente da sepultura, Maria Madalena e a outra Maria… No findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro” (Mateus 27:55,56,61; 28:1).
“Também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios” (Lucas 8:2).
É impressionante notar a frequência com que Maria Madalena é mencionada nos Evangelhos. Certamente não foi acidente o fato dela ter sido mencionada nominalmente nos registros apostólicos. Provavelmente ao se recordarem da história do Senhor, de Sua vida, Sua morte e ressurreição, os apóstolos perceberam que não podiam simplesmente deixar essa pessoa de fora.
Nós vamos começar ao contrário, iniciado no final da história, no registro de João. Ali percebemos que Maria Madalena foi a primeira testemunha da ressurreição do Senhor. De certa forma, podemos então considerar sua vida como uma vida representativa do nosso serviço enquanto testemunhas do Senhor nessa nova dispensação que teve início a partir da ressurreição do Senhor.
Como Maria Madalena pode nos ajudar a entender qual o caráter e essência do serviço? Ela responde a essa pergunta de maneira muito simples, e com muita força.
Vemos em Maria Madalena que a dinâmica, o poder, a essência do serviço ao Senhor é o fruto de uma devoção apaixonada de amor à Sua Pessoa.
Isso é simples, mas é fundamental.
Se voltarmos um pouco no tempo, perceberemos que tudo começou quando o Senhor encontrou Maria pela primeira vez – e o que sabemos é que ela era uma mulher em grande necessidade – necessidade de libertação, de salvação, de misericórdia, de graça – Maria era uma mulher que passava por grandes problemas e angústias, e o Senhor a salvou de todos os seus problemas.
A partir desse momento Maria nunca mais se afastou dEle; ela passou a fazer parte de um grupo de mulheres que seguia o Senhor por toda parte e que O servia.
E quando chegamos à Cruz, naquela última cena, vemos Maria ali com a mãe do Senhor, à alguma distância da cruz, observando, sofrendo, ela estava ali naquelas últimas horas. É possível que ela tenha sido a última ou uma das últimas pessoas a sair daquele lugar. A seguir vemos Maria como uma das primeiras pessoas a retornar ao sepulcro. Antes do amanhecer, Maria está lá novamente.
Talvez a história de João 20:11-18 seja uma das mais comoventes do Novo Testamento. Podemos ouvir o clamor de seu coração: “Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste” . Então Jesus lhe responde: “Maria!”. Ela se vira e diz: “Raboni, Mestre!”.
Essa não seria a personificação de um profundo amor pelo Senhor, um poderoso amor pela Sua Pessoa? Desse amor brotou seu testemunho e foi isso que a tornou na primeira testemunha da ressurreição da nova dispensação.
É disso que brota todo o verdadeiro serviço para Cristo em nossa dispensação. Essa é a sua natureza. Podemos dizê-lo em poucas palavras e embora seja breve e muito simples, procuremos, no entanto, reconhecer a suprema importância disso: o serviço do Senhor não é em primeiro lugar sair para fazer certas coisas, ou dizer coisas, propagar doutrinas, verdades ou interpretações, estabelecer movimentos, associações ou igrejas. O serviço ao Senhor é um fluxo espontâneo de um amor pessoal por Ele. Então seguimos para o dia de Pentecostes e daí em diante, e tudo que vem pela frente é um desenrolar disso.
Parece que a vinda do Espírito Santo foi um batismo dos crentes no amor de Cristo, pois a partir daquele momento da vinda do Espírito, eles não tinham mais nada para falar a não ser o Senhor Jesus. Eles estavam simplesmente cheios dEle! A conversa deles estava cheia dEle, sua pregação estava cheia dEle, seu testemunho era apenas sobre Ele.
Foi isso que aconteceu com o grande apóstolo dos gentios – Paulo. “Deus”, disse ele, teve o prazer de revelar Seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre as nações (Gl 1:15,16). “O amor de Cristo nos constrange” (2Co 5:14), “O amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo” (Rm 5:5). Essa era a dinâmica do serviço.
Isso é simples e funciona de duas maneiras.
Toda atividade, trabalho e o que é chamado de “serviço” para o Senhor, sem esse pano de fundo, carece do verdadeiro poder para torná-lo frutífero, mas se esse ingrediente estiver presente, será um resultado inevitável.
Em outras palavras, nada pode nos tornar verdadeiros servos do Senhor, se não houver em nosso coração um amor pessoal e apaixonado por Ele. Nada pode substituir isso. Mas se isso existir, não haverá necessidade de nenhum tipo de ordenação humana, nem separação eclesiástica. Você é servo do Senhor se tiver um amor adequado por Ele em seu coração.
Todo o nosso valor para o Senhor depende da medida de nosso amor por Ele. Isso é tudo. Pode não ser nada tão profundo, mas essa afirmação nos prova severamente.
Podemos fazer muitas coisas, como aconteceu com a igreja em Éfeso. Eles fizeram muitas coisas, mas o Senhor disse: “Tenho contra ti que deixaste o teu primeiro amor” (Ap 2:4). Era, com efeito, como se Ele dissesse: ‘Não há justificativa para sustentar seu candeeiro [seu testemunho], pois tornou-se meramente numa profissão vazia, um vaso externo sem a luz interior’.
O que justifica nossa existência é esse amor. Nada além desse amor nos manterá em movimento. Esse amor é a fonte de poder para resistir ao longo dos anos, e é uma coisa terrível tentar viver a vida cristã sem esse amor pelo Senhor no coração. É somente esse amor que realmente torna possível perseverar na vida cristã na pressão dos anos.
Tenho certeza de que no caso do apóstolo Paulo, com todo o seu sofrimento e tudo o que ele teve que enfrentar, o que o manteve em pé foi aquela chama de amor pelo Senhor em seu próprio coração. Através do sofrimento, nada além de um forte amor pelo Senhor nos manterá em movimento.
Acredito que o que nós mais precisamos é de uma restauração, um reavivamento, um aumento desse amor. Precisamos é desta poderosa chama ardendo pelo próprio Senhor, para não nos tornarmos em obreiros profissionais. Não, o que precisamos é que o amor por Ele seja intensificado e o fruto disso tudo virá.
Maria Madalena nos ensina a maior de todas as lições. Ela está ali, a última presente diante da cruz, a primeira na hora da ressurreição, a primeira testemunha da dispensação.
Como mulher ela representa o lado afetivo, o princípio da afeição, do amor e da devoção do nosso serviço ao Senhor. Foi essa afeição que produziu esse testemunho da ressurreição, e tudo foi fruto do seu sentimento de dívida para com o Senhor por Sua graça. Paulo disse: “Sou devedor” (Rm 1:14) e essa foi a dinâmica de seu serviço aos irmãos. Maria Madalena provavelmente também diria, sou devedora, devo tudo a Ele!
Se nós tivermos um senso vivo e suficiente de nossa dívida para com o Senhor por Sua maravilhosa graça para conosco, seremos capacitados para ser suas testemunhas e para o servirmos corretamente.
Oh, que haja um reavivamento em nossos corações do sentimento de nosso profundo endividamento para com o Senhor!
O coração de Maria estava partido pelo Seu Senhor e ela ansiava profundamente por Ele. Que essa seja a tônica do nosso serviço e a fonte de onde tudo que fazemos pelo Senhor venha a brotar.
Oh, deixe meu amor com fervor queimar,
E que possa do mundo agora me voltar;
Vivendo para Ti, e para Ti somente,
Trazendo prazer a Ti em Teu trono;
Apenas uma vida, que logo passará,
Somente o que é feito para Cristo permanecerá.
Apenas uma vida, sim, apenas uma,
Agora, deixe-me dizer: “Seja feita a tua vontade”;
E quando finalmente ouvir o chamado,
Sei que vou dizer “tudo valeu a pena”;
Apenas uma vida, que logo passará,
Somente o que é feito para Cristo permanecerá.
Chales T. Studd (1860-1931)