Tesouro em vasos de barro

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“Tesouro em vasos de barro” é uma coletânea de extratos selecionados dos capítulo 1 e 3 do livro “Jessie-Penn-Lewis: A Memoir”, de Mary N. Garrard. 

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Jessie Penn-Lewis (1861-1927)

“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Coríntios 4:7).

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O irmão Andrew Murray exerceu grande influência sobre a Sra. Jessie Penn-Lewis, em seus primeiros anos de caminhada com o Senhor. Um dos momentos mais importantes de sua vida espiritual, quando ela foi conduzida à reconhecer a total incapacidade “do homem natural” para servir a Deus de forma aceitável e a necessidade de receber um revestimento de poder do alto foi quando ela leu o livro “O Espírito de Cristo”, de Andrew Murray… ela afirmou: 

“…passei o dia todo lendo o livro “O Espírito de Cristo”, de Andrew Murray. Me parece tão profundo e além de minha capacidade de compreensão, mas anseio por conhecer mais a respeito. Pareço conhecer tão pouco… que Ele me ensine!” 

Dez dias depois ela registrou com alegria que a luz e convicção sobre o assunto estavam começando a reluzir. Tomando uma citação do livro, ela escreveu: 

“Cheguei às palavras ‘para alguns essa revelação vem como uma profunda, tranquila e clara percepção de que plenitude do Espírito de Cristo é sendo deles, e a fé sente confiança que Ele é suficiente para qualquer emergência’. Essas palavras me “elevaram” e vi que essa tem sido minha experiência recente – nunca vi Seu poder como vejo agora… Não tem Jesus me concedido conhecimento, amor e obediência nos últimos anos, e não tenho eu entrado em comunhão com Sua morte nesse inverno como nunca antes? Não tenho visto a total incapacidade da carne e sentido de forma aguda sua completa insuficiência?”. 

Uma enorme mudança tomou lugar na vida e no serviço da Sra. Penn-Lewis. Ela escreveu anos depois em um livreto sobre essa “plenitude do Espírito”, que está disponível para equipar o filho de Deus para testemunhar ousadamente sobre seu Senhor:

“A distinção entre esses dois aspectos da plenitude do Espírito estão claros em minha experiência espiritual… estava lendo o livro O Espírito de Cristo, de Andrew Murray e, à medida que prosseguia na leitura, vi que deveria conhecer o Espírito Santo como uma Pessoa…” 

No ano de 1895, o Sr. Andrew Murray passou o inverno na Inglaterra, acompanhado por sua esposa, hospedando-se na residência do casal Head. Eles ansiavam por cooperar para que esses servos do Senhor tão grandemente usados mantivessem contato com tantos irmãos quanto fosse possível. 

Alguns dias depois de sua chegada à Inglaterra, o casal Head ofereceu um grande café da manhã em Exeter Hall para 120 irmãos das mais diversas denominações e grupos, incluindo alguns servos de Deus muito conhecidos como C. A Fox, F. B. Meyer, Lord Kinnaird, Lady Hope, Sr. e Sra Denny Smith e  o Sr e a Sra Penn-Lewis. Depois desse encontro, a Sra. Penn-Lewis e o esposo tiveram o privilégio de ter um longo tempo de comunhão com o Sr. Murray – o primeiro contato de uma comunhão com Deus que se aprofundou em um laço do Espírito entre essas duas almas que conheciam a Deus “face a face”. 

Em um artigo publicado na revista Our Onward Way (de Agosto de 1895) a Sra. Penn-Lewis descreve um pouco de uma mensagem recebida do Sr. Murray em um encontro do Instituto Richmond ocorrido em Julho, organizado pela Sra. Head.

Esse é o registro das anotações feitas pela Sra. Penn-Lewis das palavras de encerramento do Sr. Murray:

“O Sr. Andrew Murray começou a compartilhar conosco. Verdadeiramente sentíamos a presença de Deus enquanto ele falava de forma simples sobre o “Tesouro em vasos de barro” (2Co 4:7). Ele falou mais ou menos assim:

Em primeiro lugar temos o TESOURO. Existe um tesouro no céu, e esse tesouro toma toda a sua extensão. E aqui estou eu, um pequeno jarro, e posso ser completamente tomado desse tesouro celestial.

Deus tem apenas UM TESOURO: SEU FILHO AMADO. Ele o chama de “meu tesouro”, e Deus colocou todas as Suas riquezas e todos os seus tesouros em Jesus. Nele estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (Cl 2:3). 

Deus se deleita em seu Filho, e da mesma maneira que Deus se deleita nEle, devemos nos deleitar nEle também. Você pode ter uma porção desse tesouro e se tornar indizivelmente rico em Jesus, na mesma medida que Ele se derramar em você. 

“Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2Co 4:6).

A luz de Deus

A glória de Deus

A face de Jesus,

todas essas coisas são celestiais.

A face de Jesus é o tesouro. Muitos crentes não sabem que o possuem. Alguns anos atrás um campo na África do Sul contendo 40.000 libras em diamantes poderia ter sido adquirido por 1.000 libras, e tudo isso porque seu dono não sabia do valor dos diamantes. Se não sabemos que temos esse tesouro celestial, somos muito pobres. Aprenda a dizer: sou tão rico! Tenho tal tesouro! Sou rico além de todo o entendimento – rico ao ponto de poder distribuir!

Mas COMO DEUS CONCEDE ESSE TESOURO? Ele não o faz como nós fazermos. Nós talvez possamos doar um centavo para um pedinte, ele se vai e não mais sabemos notícias dele. Mas não é assim com Deus. Essa bênção é como a luz do sol – não pode ser recebida e levada conosco. Não podemos reter a luz do sol nem um minuto além do instante em que ela e está reluzindo entre nós – para isso precisaremos estar debaixo da luz solar a cada minuto. Assim, o tesouro celestial me mantém esperando diante de Deus o dia todo, assim ele reluz em mim.

O TESOURO CELESTIAL É AMOR. A partir do momento que o amor busca a si mesmo, ele morre. O amor de Jesus brilha e busca aqueles que estão em trevas. O sol não pode permanecer restrito à si mesmo. Parte da natureza misteriosa desse raio de luz celestial é que quando começamos a agarrá-lo para nós mesmos, ele parece se obscurecer. Não podemos ter a luz e mantê-la reservada para nós mesmos. Você vê o sol brilhando sobre aquela árvore? Se a árvore dissesse, “ninguém deve me ver”, será que ela poderia se ocultar antes que as trevas da noite a apanhem? Uma vez que a luz está sobre ela, ela será vista. Nós somos vasos de barro criados para conter o tesouro celestial e nada mais – fomos criados para deixar essa vida, amor, riquezas e tesouros de Jesus aparecerem.

VAMOS ENTÃO OLHAR PARA O VASO DE BARRO. Vi outro dia um jarro de prata sobre a mesa cheio de leite, e um pequeno vaso de barro marrom com creme. Ninguém rejeitou o creme porque estava em um vaso de barro. Somos como os vasos de prata, mas Deus ama colocar Seus mais ricos tesouros em vasos de barro. Essa é uma lição de extrema importância.

Cristãos pensam tanto a respeito de suas fraquezas – “sou tão tolo, fraco, limitado, alguém é mais dotado que eu, pode fazer mais!” – esquecemo-nos que Deus deseja vasos de barro!

Na África do Sul havia um incrédulo muito difícil de tratar e um dia um ministro enviou um ancião da igreja, homem sábio e piedoso, para visitá-lo. Ele argumentou com ele, mas não conseguiu convencê-lo, foi inútil. Havia um velho fazendeiro que orava por anos por aquele homem incrédulo (ele era um ferreiro). Bem cedo ele tomou seu cavalo e foi até ele, que o saudou dizendo “bem, o que traz você aqui numa hora dessas?”. O fazendeiro gaguejou, pois ao ser saudado com aquelas palavras ele ficou sem palavras. O incrédulo riu, dificultando ainda mais as coisas. Finalmente aquele fazendeiro começou a chorar e balbuciou: “Estou muito ansioso devido à condição de sua alma”, e foi logo embora. Isso levou aquele incrédulo à se converter. Veja, o tesouro celestial em um vaso de barro.

ISSO NOS ENSINA CORAGEM, E TAMBÉM HUMILDADE. Não tenho nada em mim mesmo. “O que se humilha será exaltado” (Lc 14:11), aquele se confessa ser nada além de um vaso de barro pode ser cheio do tesouro celestial. Que terrível maldição: o orgulho e o ego. Desejamos que Deus nos dê algumas coisas para que nos tornemos em algo, mas Deus deseja que“nada” sejamos. Um tesouro celestial em um vaso terreno. 

Paulo estavam correndo perigo nesse sentido. Ele pregava na demonstração do Espírito e de poder. Ele foi tomado ao terceiro céu e ouviu coisas inefáveis, que não podia referir. Então Deus permitiu que “um mensageiro de Satanás” o humilhasse. Paulo orou a esse respeito três vezes, mas Jesus lhe disse: “Não, Paulo. Te levei ao terceiro céu e você corre o risco de acreditar que é um vaso celestial. Enviei isso para te humilhar, e para que minha força seja aperfeiçoada em sua fraqueza”. Assim Paulo pôde louvar a Deus e imediatamente ele se alegrou por todos os problemas que ainda viriam (2Co 12:1-10).

Mais adiante, vemos que Paulo afirmou: “trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1Co 15:10), certamente ele nunca havia sonhado em ter realizado tantas coisas. 

Mas, depois de falar sobre esse tesouro celestial contido nos vasos terrenos, qual seria a aplicação disso?

Quem dentre nós deseja ser um vaso terreno cheio com esse tesouro celestial? Ah! Como isso é necessário! Quatro milhões de pessoas em Londres nunca foram à um lugar de adoração. Que terrível isso acontecer em um país cristão. Não seria melhor chamá-la de terra ímpia? E o pior é que dentre um milhão de pessoas que frequentam esses lugares com tanta formalidade, como são poucos aqueles que realmente conhecem a Cristo e o tesouro celestial que Ele é. Se todos aqui abrissem mão de suas vidas para serem tornados em um vaso de Deus cheio do Seu tesouro, certamente não seríamos tantos. 

Vamos retornar à nossa ilustração inicial. Antes que o creme pudesse ser colocado no vaso de barro, certamente ele deveria estar limpo. Assim Deus precisa limpar o orgulho e egoísmo dos vasos terrenos.

O vaso também precisa estar vazio. Não pode haver vestígios de vinagre, leite ou vinho nele, nada pode ser misturado ao creme. Quantos vasos terrenos estão cheios, mas não de pecados ou coisas desse tipo – me refiro à coisas lícitas, coisas boas. Sim, o bom também precisa sair junto com o pecado – me refiro às coisas que ninguém pode afirmar que são malignas – caso contrário não haverá espaço para o tesouro celestial. O amor do pai, mãe, irmã e irmão precisam ser entregues à Deus para ser cheios com o amor de Cristo.

O vaso também precisa ser rebaixado. Quanto mais baixo ele estiver, mais fácil é ser cheio. Alguns vasos estão vazios, limpos, mas não são humildes o suficiente. Eles não colocam a boca no pó, e por isso o Senhor não pode enchê-los [Lm 3:29, Jó 42:6]. Oh, vamos orar: “mais para baixo, mais baixo, ainda mais baixo, Senhor… nada, nada, nada, que Deus somente possa ser exaltado”. 

Essas palavras foram ouvidas com atenção e o tempo que se seguiu foi muito precioso, quanto todos fomos conduzidos em oração, desejando nos tornar vasos terrenos – limpos, vazios, humildes – para que o tesouro celestial pudesse se manifestar em nós. 


Jessie Penn-Lewis (1851-1927) nasceu no País de Gales, em uma família metodista calvinista. Sempre teve uma constituição física frágil, estando constantemente muito doente. Penn-Lewis foi muito impactada pelo ministério de Evan H. Hopkins, quando lhe foi apresentado o caminho da vitória por meio da Cruz de Cristo. Ela tinha um forte encargo com a mensagem da identificação do crente com o Senhor na Cruz, para manifestar o poder de Sua morte e ressurreição. Sua contribuição foi grande no sentido de reavivar entre os crentes a verdade da vida interior e da mensagem da Cruz. Assim como Madame Guyon, Fénelon e outros místicos cristãos, ela enfatiza fortemente em seus escritos a necessidade de uma vida interior de oração e contemplação do Senhor Jesus, e uma experiência subjetiva da Cruz.

Jessie Penn-Lewis era casada, mas não teve filhos. Apesar de enfrentar diversos períodos de severas enfermidades, ela ministrou sua mensagem em vários países como Índia, Canadá, Rússia e Egito, pregou na Convenção de Keswick, iniciou a publicação da revista The Overcomer (O Vencedor), e publicou livros e artigos sobre diversos assuntos.

Penn-Lewis foi contemporânea de G. Campbell Morgan, F. B. Meyer, A.B. Simpson e T. Austin-Sparks. Em 1934, Watchman Nee afirmou que “durante os últimos anos, quase todas as mensagens comentadas entre os crentes espirituais têm sido ensinamentos de Jessie Penn-Lewis”.

Para conhecer mais a respeito do encargo e mensagem de Jessie Penn-Lewis, é possível ler ainda hoje edições da Revista O Vencedor. Os livros “Guerra contra os Santos” e “A Cruz, o caminho para o reino” foram publicados no Brasil pela Editora dos Clássicos.

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1 Comentário. Deixe novo

  • Douglas Fernando Crovador
    31 de janeiro de 2024 12:22

    Este é o Evangelho que nós, cristãos, mais precisamos ouvir, crer, obedecer e experimentar. aqui no Brasil. Tenha o Senhor misericórdia de nós.

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