A sarça ardente é uma tradução do capítulo 4 do livro “Face to Face“, de Jessie Penn-Lewis.
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Jessie Penn-Lewis (1851-1927)
“Apareceu-lhe o Anjo do SENHOR numa chama de fogo, no meio de uma sarça” (Ex 3:2).
Leia o post anterior aqui.
Deus preparou para Moisés a terra de Midiã. Seus passos foram ordenados pelo Senhor, sendo ele conduzido para um lugar onde o seu pão seria dado e suas águas seriam certas [Is 33:16]. Separado dos arredores magníficos do palácio de Faraó e dos prazeres da altamente civilizada capital do Egito, Moisés recebeu a alegria da um lar simples, e aprendeu a ser contente com uma comida simples e uma vida pastoral em uma terra estrangeira.
Por meio da narrativa de Estêvão, descobrimos que Moisés gastou quarenta anos em seu retiro em Midiã. Quarenta anos é um tempo de vida longo hoje, e Deus não toma tanto tempo para preparar Seus instrumentos nestes dias.
Assim como Moisés conduziu suas ovelhas ano após ano, será que ele pensou que Deus havia se esquecido daquela transação com Ele, quando olhou para a recompensa adiante dele e escolheu o caminho da cruz? Ou será que ele tinha muitos conflitos sofridos com a ideia que ele havia frustrado a graça de Deus, e tinha sido colocado de lado, como um vaso arruinado? Será que ele dizia para si mesmo que, por sua própria insensatez e vontade, ele havia sido eliminado do povo que ansiava por ajudar?
Não nos é dado nenhuma pista dos pensamentos de Moisés durante esses quarenta anos, mas é provável que Deus tenha esperando, até que cada esperança de ser enviado de volta para ser o salvador de seus irmãos oprimidos tenha se apagado.
Deus esperou por Moisés até que, no silêncio do deserto, todo o seu ser foi acalmado e toda a “atividade natural”, pressa e impulso tivesse sido mortificados.
Oh, como somo inquietos em nós mesmos! Como não gostamos de ficar parados, especialmente quando tudo ao nosso redor parece estar se movendo na maior velocidade. Sim, a Igreja de Deus pegou a febre do mundo! Mas Deus tem os Seus escondidos, os “pacíficos da terra” (Sl 35:20).
Talvez, filhos de Deus, vocês tenham esquecido seu treinamento do deserto, no seu ambiente de trabalho ou na sua cozinha, em algum posto missionário solitário, ou em algum lugar mundano no seu próprio país. Você estava agonizando, sofrendo, pensando quando Deus irá te libertar. Você pensou que Ele desejava fazer grandes coisas por meio de você, mas você tem estado tão cercado dessas coisas, que toda a sua esperança morreu, todos os planos e esquemas se foram. Pelo menos você está contente em “alimentar o rebanho”, e de ser fiel a Ele naquilo que é o mínimo. Aqui estou eu, ocupado com nada além das coisas dessa terra, e Deus parece não precisar de mim. Será que eu nunca estarei entre aqueles privilegiados, pelos quais os oprimidos são libertos? Oh, filho de Deus, seu Pai nunca esquece, e Seu relógio nunca se atrasa. Espere! “Mas eu tenho esperado muitos anos!” Seu Pai sabe – entregue-se a Sua vontade, e descanse, você não sabe que Sua vontade é mais do que Sua obra, e que seu Senhor disse, “Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe”? [Mt 12:50] A espera deve acontecer. O objetivo e finalidade de toda a Sua obra em nós é nos ensinar a “experimentar qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus” [Rm 12:2].
Nos tratos de Deus com Moisés, o tempo chegou quando Seus propósitos amadureceram – o instrumento e o povo estavam prontos.
O rei do Egito tinha morrido – o rei que conhecia Moisés em sua juventude – e o povo de Israel estava gemendo em sua servidão. “Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó” (Êxodo 2:24). Não que Deus tenha se esquecido em algum momento, mas as condições necessárias para Sua ação tinham que se cumprir.
O mistério da manifestação do poder divido dependendo de nossa cooperação humana sempre foi estranho para criaturas finitas. Isso se apoia principalmente no livre arbítrio que pertence a nós. Deus não pode nos libertar da escravidão, a não ser que desejemos que Ele faça isso. Por isso, Ele precisa permitir que pressão venha sobre nós de uma maneira ou de outra, de forma a nos trazer ao ponto de pedi-Lo para fazer por nós o que Ele já estava pronto e apto para fazer o tempo todo.
Israel precisava chegar ao ponto de clamar por libertação, antes que Deus os libertasse; e Deus os trouxe a essa posição, permitindo que sua escravidão e sofrimento aumentasse, até que eles suspirassem e clamassem a Deus que estava justamente desejando os salvar. O instrumento estava pronto. O libertador estava sendo preparado. Quão pouco Israel sabia disso! Na sua angústia e tristeza, eles pareciam esquecidos por Deus e pelo homem.
Não é assim hoje? Nosso Deus é o mesmo Deus. Quando O vemos lentamente e silenciosamente amadurecendo Seu plano para libertação de Israel, e maravilhamo-nos com a beleza de Sua obra que se descortina diante de nós, ainda assim Ele está agora aperfeiçoando Seus planos para o arrebatamento de Seus chamados, a Igreja dos primogênitos arrolados nos céus.
Se nós habitarmos no lugar secreto do Altíssimo e olharmos com Ele “a partir do alto”, vamos permanecer no Seu conselho e discerniremos o sinal dos tempos que apontarão para o aparecimento do Senhor.
Com Israel pronto, Moisés poderia ser informado que os propósitos de Deus estavam prontos para serem cumpridos. O caminho de Deus para lidar com ele é cheio de significado. Ele encontra Moisés em seu caminho comum de trabalho, levando suas ovelhas para o pasto no monte. Se estamos ansiando ser usados por Deus, devemos estar certos que “fazer a próxima coisa” em nossa rotina diária é o melhor treinamento para o serviço. Vamos estar assim prontos para o chamado de Deus, quando Ele estiver pronto para nos usar.
Ele prendeu a atenção de Moisés por meio de uma chama de fogo, queimando em um arbusto comum, uma sarça, e a coisa estranha sobre esse incidente é que a sarça continuava a queimar e não se consumia.
A Sarça Ardente – uma grande maravilha
Moisés disse: “Irei para lá e verei essa grande maravilha; por que a sarça não se queima?” (Êxodo 3:3). Uma sarça pegando fogo sem a intervenção humana para atear fogo e sem combustível para a manter queimando. Essa era apenas uma figura para Moisés do que Deus poderia fazer com ele, e uma figura para o povo de Deus em todos os tempos de Sua graça, de que Ele está desejoso de habitar nos seres humanos, tão pequenos e insignificantes como um pequeno arbusto no Monte Horebe.
Deus falou com Moisés daquele arbusto, assim como Ele falou com muitos de nós. Ele o chamou pelo seu nome, porque as mensagens de Deus são sempre pessoais e diretas, de forma que não precisamos que ninguém diga: “você é o homem”. Quando Deus fala, nos esquecemos dos nossos vizinhos e sabemos para quem Ele está falando.
Mas Moisés precisa saber quão solene é encontrar a Deus, mesmo que não seja ainda “face a face”! Moisés, “o lugar em que estás é terra santa” (vs.5). Terra Santa! – apesar de um momento antes ter sido uma terra comum. Terra santa por causa da presença do Deus da glória.
“Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (1 Coríntios 3:17). Oh, como devemos nos lembrar disso! Então nossa pergunta não será: “tem algum problema nisso ou naquilo? “ mas, “Isso está adequado ao templo de Deus?” Se Deus habita em nós, como Ele habitou naquele arbusto, então certamente Sua sagrada presença deveria tornar a mais comum das coisas alinhadas com a glória do céu.
“Disse mais: Eu sou … DEUS” (Ex 3:6). O mesmo Deus que Abraão conheceu e que o fez caiu sobre seu rosto quando falou com Ele. O Deus que Isaque e Jacó também conheciam. “Eu sou … DEUS”. “Moisés escondeu o rosto, porque temeu” (vs 6). Ainda não era o tempo para a amizade “face-a-face”, ainda!
“Disse ainda o SENHOR: Certamente, vi a aflição do meu povo, … e ouvi o seu clamor … Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo” (Êxodo 3:7-8). “Eu sou… DEUS …e desci a fim de livrá-lo”. “Jeová, o grande EU SOU”- porque DEUS é um eterno AGORA. Seu coração em relação as almas em aflição e dor é o mesmo agora, assim como era quando Ele Se revelou a Moisés. Ele é imutável, sem nenhuma sombra de mudança.
Oh, como precisamos encontrar com o Senhor, a fim de que Ele possa abrir Seu coração para nós e nos mostrar Seu amor e compaixão sobre esse pobre mundo perdido, o amor que deu Seu único Filho amado para salvação. Quem pode perscrutar o amor da cruz? O amor do Pai em entregar Seu Filho à morte, o amor do Filho em consentir em ser separado do Seu Pai por meio da cruz, e o amor do Espírito Eterno que geme sobre os redimidos agora com inveja ciumenta.
“Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo” (Êxodo 3:10). Deus deseja Moisés em parceria? “Eu desci a fim de livrá-lo” (verso 8). Jeová primeiro revelou-Se a Si mesmo a ele: “Eu sou….Deus” e então, revelou Seu coração: “Eu vi a aflição, eu vim”; e agora Ele revela a Moisés Seus planos para cumprir a libertação. Deus, pelas mãos de Moisés! Não Moisés com a ajuda de Deus!
Apenas por meio de tal encontro com Deus pode o efetivo serviço para Ele começar. Nós precisamos receber nossa comissão diretamente do Senhor, para que não corramos antes de termos sido enviados e tenhamos por mérito que receber as palavras ditas por Jeová aos profetas de Israel nos últimos dias: “Não mandei esses profetas; todavia, eles foram correndo; não lhes falei a eles; contudo, profetizaram… Eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse”(Jr 23: 21; 31).
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Jessie Penn-Lewis (1851-1927)
Nasceu no País de Gales, em uma família metodista calvinista. Sempre teve uma constituição física frágil, estando constantemente muito doente. Penn-Lewis foi muito impactada pelo ministério de Evan H. Hopkins, quando lhe foi apresentado o caminho da vitória por meio da Cruz de Cristo. Ela tinha um forte encargo com a mensagem da identificação do crente com o Senhor na Cruz, para manifestar o poder de Sua morte e ressurreição. Sua contribuição foi grande no sentido de reavivar entre os crentes a verdade da vida interior e da mensagem da Cruz. Assim como Madame Guyon, Fénelon e outros místicos cristãos, ela enfatiza fortemente em seus escritos a necessidade de uma vida interior de oração e contemplação do Senhor Jesus, e uma experiência subjetiva da Cruz.
Jessie Penn-Lewis era casada, mas não teve filhos. Apesar de enfrentar diversos períodos de severas enfermidades, ela ministrou sua mensagem em vários países como Índia, Canadá, Rússia e Egito, pregou na Convenção de Keswick, iniciou a publicação da revista The Overcomer (O Vencedor), e publicou livros e artigos sobre diversos assuntos.
Penn-Lewis foi contemporânea de G. Campbell Morgan, F. B. Meyer, A.B. Simpson e T. Austin-Sparks. Em 1934, Watchman Nee afirmou que “durante os últimos anos, quase todas as mensagens comentadas entre os crentes espirituais têm sido ensinamentos de Jessie Penn-Lewis”.
Para conhecer mais a respeito do encargo e mensagem de Jessie Penn-Lewis, é possível ler ainda hoje edições da Revista O Vencedor. Os livros “Guerra contra os Santos” e “A Cruz, o caminho para o reino” foram publicados no Brasil pela Editora dos Clássicos.