T. Austin-Sparks
“Pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés” (1 Co 15:25).
A Bíblia Transfigurada de Paulo
A partir daquela crise, daquele encontro e daquela “visão”, tudo mais começou a crescer na vida de Paulo. A partir daquele momento, tudo foi transfigurado, transformado, visto de uma forma inteiramente nova, à luz desse Jesus no Trono. Depois daquilo, Paulo passou um pouco de tempo em Damasco, então partiu para a Arábia; e acredito que ele levou sua Bíblia [Antigo Testamento], pelas diversas evidências. Ele passou um longo tempo nesse lugar, provavelmente com a Bíblia em uma mão, e Jesus no Trono, por assim dizer, na outra.
Se você deseja conhecer sua Bíblia, esse é o caminho, e essa é a chave e a porta: Jesus no Trono e a Bíblia. Então Paulo obteve uma nova Bíblia, uma Bíblia transfigurada! Ele viu sua Bíblia, seu Antigo Testamento, com o qual ele estava muito familiarizado, baseado em uma nova luz, pelo prisma daquela grande verdade – Jesus no Trono! À medida que ele repassava a Bíblia que já possuía, ele viu isso inerente em cada passagem: “Sim, sim, é isso que está aqui!” Ele viu que a Bíblia era realmente um livro que falava sobre uma coisa: a intenção de Deus de ter um Homem, de acordo com Seu coração, em domínio, reinando em glória. Esse assunto da glória do Homem no Céu interpretava tudo, explicava tudo.
Afinal de contas, depois que você pára por um momento para pensar nisso, sua Bíblia se abre para você. Por que essa condição tão terrível que temos diante de nós? Porque tudo hoje está contrário àquilo que Deus intencionava. Isso é o que a situação atual declara. Quando vemos o mundo, a terrível condição das nações, e olhamos ao nosso redor, para nosso próprio país – que condição terrível de sofrimento, miséria e maldade, e podemos nos inclinar a perguntar: Por que? Por que? Por que Deus permite isso? A resposta está aqui: Deus permite que tudo o que é contrário a Ele grite e chame a atenção do homem, demonstrando que é contrário a Deus – Ele nunca desejou que as coisas fossem assim! Quando algo dá errado, Deus não passa por cima, amacia e deixa para lá, como se aquilo não tivesse importância, mas Ele permite que aquilo grite, de forma explícita, expressando o crime e tragédia que essas coisas representam. O mundo está gritando por sua própria tragédia, e é a tragédia de ter perdido o propósito de Deus. Interprete aquilo para o mundo, e você terá uma forma efetiva de trazer o Evangelho.
Mas a Bíblia derramou vida para Paulo, e é impressionante que a partir daquele momento, quando ele tomou sua Bíblia com ele para todos os lugares por onde andou, a única coisa que ele pregava era: ‘Jesus é Senhor; Jesus é Senhor!’ O exaltado Senhor, o exaltado Cristo, o glorificado Cristo, esse era o tema; e Paulo pregou tudo isso a partir da Bíblia [Antigo Testamento]. Aquela visão transformou a sua Bíblia para ele. Ela foi responsável por toda a sua missão e serviço a partir dali. Qual era a grande missão na qual ele estava engajado? O que foi aquilo que o constituiu um apóstolo? Bem, sua missão e serviço foram impulsionados, motivados e controlados por uma única coisa – a absoluta glória do Senhor Jesus! Aquele Jesus deveria chegar ao Seu lugar de direito nesse mundo e nos corações dos homens. Esse era a sua motivação, o seu objeto, aquilo que dominava toda a sua obra, sua missão. Não era qualquer coisa, mas era apenas uma e todo-inclusiva paixão central: Jesus como Senhor, tomado Seu lugar na vida dos homens. Sua obra e sua missão foram transfiguradas e controladas por isso, que veio por meio da experiência pessoal do apóstolo.
Os sofrimentos e perseverança de Paulo foram possíveis por causa dessa visão. Algumas vezes ele fala de seus sofrimentos como leves. Se algum homem já sofreu, acredito ser esse o homem. Não conheço maneira pela qual ele não tenha sofrido. Ele sofreu grandemente, muitos sofrimentos pesados. Mas veja:
“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Co 4:17,18).
Em meio as coisas que não se veem, vemos de forma suprema O Exaltado em glória, ‘Quem’, diz o Apóstolo Pedro, “não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória” (1 Pe 1:8). O ponto é – como ele pôde sofrer e suportar tudo isso de forma triunfante? Isso foi possível por causa dessa consciência básica e central – a profunda e nítida convicção de que Jesus está no trono.
Extraído do Capítulo 8 do livro “Men Whose Eyes Have Seen the King” – de T. Austin-Sparks