“De Força em Força” é um artigo composto por extratos do livro “A Larger Christian Life”, de A. B. Simpson.
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A.B. Simpson (1843-1919)
“Vão indo de força em força” (Salmo 84:7).
Esse lindo Salmo descreve o “Progresso do Peregrino” pelo vale de Baca. Essa é a história de uma vida de confiança, cuja base está registrada nos versos quinto e décimo segundo do Salmo: “Ó Senhor dos Exércitos, feliz o homem que em ti confia” (vv.12). “Bem-aventurado o homem cuja força está em ti” (vv.5). Para ele, o vale de Baca, o vale de lágrimas, se torna uma fonte de águas vivas, e cada lugar baixo e árido se torna uma cisterna que será cheia com o derramar abundante da chuva dos céus. Bebendo dessas águas vivas, os peregrinos vão “de força em força”, e todos finalmente chegarão ao seu lar – “cada um deles aparece diante de Deus em Sião”.
“De força em força!”. Temos, entretanto, um capítulo prévio, da fraqueza para a força. Isso porque o homem é naturalmente a criatura mais fraca do universo. Ele inicia sua vida com o choro de um bebê indefeso, mais fraco que o filhote do tigre ou do pássaro no seu ninho. Mas sua fraqueza física é apenas uma figura da sua impotência espiritual. “Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5:6). Entretanto, na conversão da alma, a graça de Deus lhe dá o primeiro sopro de força espiritual, capacitando-o para escolher e obedecer ao Senhor, para deixar o pecado e caminhar em plena obediência. Então, ele canta uma nova canção: “Graças te dou, ó Senhor, porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolas. Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação” (Is 12:1,2).
A confiança e amor daqueles que acabaram de nascer de novo é muito forte; tanto no seu propósito, como na sua alegria e santo entusiasmo. Parece verdadeiramente que eles nunca poderiam ser tentados a duvidar ou desobedecer, e, como Pedro, eles estão prontos a declarar: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei” (Mt 26:35). Então, Deus nos encontra nesse plano e nos ajuda com Sua força, apesar dEle ter algo muito melhor para nós mais adiante. Falando com esse coração, em Isaías 41:9, Ele diz: “Tu és o meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei”. Essa é a experiência da alma que acaba de conhecer a Deus. Então Ele acrescenta: “não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel” (vs 10).
Essas três expressões descrevem as três experiências bem distintas do início da nossa vida Cristã. A primeira aparece quando começamos a ver que nossa força não é suficiente e então clamamos para que Deus nos fortaleça, e Ele o faz. É o velho tipo de força, mas Ele nos concede mais dela. No entanto, logo essa força não mais será suficiente e, como ainda afundamos, Ele vem e concede ajuda à nossa força. “Eu te ajudo”, Ele diz. Agora temos o coração fortalecido pelo Forte Senhor. Mas ainda temos a percepção de estarmos à frente das coisas, não o Senhor. É como se fosse a nossa batalha, e Ele simplesmente nos consolida com Seu auxílio.
Logo surge uma maior crise. Essa força não será mais suficiente, afundamos no conflito e estamos prontos a entrar em colapso em completa exaustão, desencorajados. É nesse momento que o Poderoso Ajudador vem ao campo de batalha, tomando a luta para Si e em Suas próprias poderosas mãos. Assim, Ele nos ergue da nossa profundeza, como uma mãe faz com seu bebê, nos ordenando a não mais permanecermos dependendo de Sua ajuda, mas convida-nos a deixar que Ele nos tome em Seus braços, nos carregue com Sua própria força poderosa, dizendo: “Sim, Eu te sustento com a minha destra fiel”.
Isso é caminhar de força em força! De nossa própria força para uma força aumentada do Senhor até passarmos para a absoluta e completa suficiência concedida pelo Próprio Deus.
Com essa descrição do profeta, percebemos uma vívida imagem da súbita e completa mudança no campo de batalha e, olhando ao nosso redor, descobrimos que todos os nossos adversários já desapareceram diante da face do Senhor. Nosso poderoso Capitão assumiu a frente do campo de batalha, e “eis que envergonhados e confundidos serão todos os que estão indignados contra ti; serão reduzidos a nada, e os que contendem contigo perecerão. Aos que pelejam contra ti, buscá-los-ás, porém não os acharás; serão reduzidos a nada e a coisa de nenhum valor os que fazem guerra contra ti”.
No terceiro capitulo de Apocalipse vemos a pequena Igreja de Filadélfia passando por algo semelhante em sua experiência. “Tens pouca força”, diz o Mestre, “entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” (Ap 3:8). Mas no versículo 10 encontramos uma poderosa força chegando para a fiel Filadélfia: “Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei”. É Deus quem nos guarda agora, não mais nós mesmos. No versículo 12 vemos o clímax: Aquele que tinha “pouca força”, agora se tornou numa coluna, com força suficiente para não apenas sustentar o seu próprio peso, mas também para suportar o edifício sob o qual ela permanece. Quando Filadélfia se torna uma coluna, sua própria individualidade desaparece. Ela então se identifica com o próprio Deus, porque Ele diz: “gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome”. Não se trata de força meramente humana, mas a força de Jeová.
Albert Benjamin Simpson (1843-1919) foi um pastor e escritor canadense. Simpson cresceu em meio à rígida tradição puritana e recebeu seu treinamento teológico em Toronto. Logo que concluiu seus estudos, foi ordenado pastor de uma das maiores congregações presbiterianas do Canadá. Aos 30 anos, deixou o Canadá e assumiu o púlpito da maior igreja presbiteriana de Louisville, no Kentucky/USA. Ali seu encargo pelo evangelismo começou a despertar, mas ele sentia que algo ainda lhe faltava, lutava com problemas de amor próprio, egoísmo e auto-confiança, e ansiava por vencer esses pecados em sua vida. Durante uma campanha com Major Whittle, do Exército da Salvação, ele viu e ouviu pregações com poder e manifestação da presença de Cristo, levando-o a experimentar um enorme vazio, algo que preparou o caminho para sua experiência mais marcante: da suficiência de Cristo. Em 1880 foi chamado pela Igreja presbiteriana da Thirteenth Street, em Nova Iorque, quando começou a sentir um encargo forte pelos pobres de seus arredores. Sofrendo enfermidades desde sua infância, era as vezes impedido por elas de até mesmo de concluir uma pregação. Então, Simpson experimentou a cura divina, parte integrante de sua ministração. Seu trabalho missionário cresceu, e com o tempo, ele estabeleceu um lar para pobres, alcoólatras, abrigo para mães solteiras e um orfanato, além de enviar missionários para diversas regiões do mundo.
Simpson foi um escritor prolífico, tendo uma extensa obra literária de aproximadamente 101 livros, além de poemas, hinos, artigos e livretos. Até nossos dias, ainda nos inspira e fortalece no sentido de buscar uma vida profunda e frutífera no Senhor. Para os que desejam conhecer mais de sua obra, os títulos “Jesus Cristo, Ele mesmo!”, “As quatro dimensões do Evangelho” são publicados pela Editora Betânia na língua portuguesa.
“Durante muito tempo orei a Deus pedindo a santificação, e muitas vezes achei que a havia recebido. Houve até uma ocasião em que senti algo diferente, e me agarrei àquela experiência, receoso de a perder. Fiquei acordado a noite toda, temendo que ela me escapasse, e é claro que, assim que a emoção e a sensação momentânea se esvaíram, ela desvaneceu também. Perdi-a, porque não me firmara em Jesus. Estivera bebendo pequenos goles de um imenso reservatório, quando poderia estar imerso na plenitude de Cristo… Então, resolvi despreocupar-me da santificação e da bênção em si, e passei a contemplar o próprio Cristo. Assim, em vez de ter uma experiência, entendi que, tendo Cristo, tinha Aquele que era maior do que uma necessidade momentânea, tinha o Cristo, que era tudo de que necessitava. Então O recebi, de uma vez para sempre” (A. B. Simpson, “Jesus Cristo, Ele mesmo!”).