Harry Foster
“Ouvi vós, os que estais longe, o que tenho feito; e vós, os que estais perto, reconhecei o meu poder. Os pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas? O que anda em justiça e fala o que é reto; o que despreza o ganho de opressão; o que, com um gesto de mãos, recusa aceitar suborno; o que tapa os ouvidos, para não ouvir falar de homicídios, e fecha os olhos, para não ver o mal, este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas. Os teus olhos verão o rei na sua formosura, verão a terra que se estende até longe” (Is 33:13-17).
Veja post anterior aqui.
Alimentados de Cristo
“O seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas” [vs 16b]. Essa segunda promessa é de caráter vital, porque o grande perigo de estar em uma fortaleza invencível é que, ao estar cercada, essa pessoa possa ter que se submeter ao inimigo por causa da fome. O inimigo faz mais do que apenas arrazoar conosco para nos levar a abandonar nossa cobertura; ele trabalha para cortar nossos suprimentos, em uma tentativa de fazer-nos interiormente tão fracos e abatidos, até o ponto de entregarmos nossa posição espiritual. Se ele não puder destruir os que são verdadeiros com o Senhor, ele tentará desgastá-los, cortando os abundantes recursos de Cristo, para que eles nunca os alcancem.
Se formos submetidos a uma fome e sede espirituais prolongadas, não conseguiremos manter nossa posição de ascendência. Por isso, somos tentados a negligenciar nossos momentos de quietude. Um cristão morto de fome é um cristão derrotado – ou logo será. Por isso, somos tão facilmente desviados das coisas de Deus, sendo indevidamente tomados com teorias, doutrinas, controvérsias, ou até mesmo trabalho, às custas de nos alimentarmos verdadeiramente de Cristo. Essa também é a razão para tanto preconceito contra o ministério da Palavra, ou ainda contra seus ministros; Satanás está tentando privar o povo de Deus de seus recursos espirituais em Cristo. Vida espiritual e vitória não podem ser mantidas por interesses ou atividades, mas apenas por amplos suprimentos de alimento sólido espiritual, assim como o beber do próprio Cristo. Se vamos resistir aos assaltos do inimigo efetivamente, devemos entrar no benefício dessa promessa: “O seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas”.
Graças a Deus, porque existe um abundante suprimento em Cristo para todos nós, para que sejamos mantidos em constante saúde e vigor espiritual. Isso é algo mais do que uma bênção em um momento de grande apuro em uma reunião ou conferência; é uma aproximação pessoal de Cristo como pão diário e água da vida.
Ezequias percebeu a suprema importância nesse quesito de suprimentos. Durante o período de pausa entre o primeiro ataque e esse cerco, ele trabalhou bastante para garantir suprimento de água para Jerusalém. Ele fechou e represou os recursos naturais de água que ficavam fora da cidade, e desviou água por meio de um túnel subterrâneo que cavou na rocha. Dentro da cidade, ele preparou a fonte de Siloé. Então ele trouxe água para ela por meio dessa rota subterrânea que foi preparada com essa finalidade. Esse era um suprimento de água permanente e oculto que não poderia ser adulterado pelos Assírios, e isso foi registrado como uma impressionante característica da sabedoria de Ezequias: “…como fez o açude e o aqueduto, e trouxe água para dentro da cidade” (2Rs 20:20).
Esse foi um símbolo impressionante dos recursos que Cristo obteve por nós – um poço de água interior! Satanás não pode impedir isso. Ele pode impedir que os filhos de Deus ouçam pregações, pode os afastar de todas as oportunidades de comunhão exteriores (apesar de devermos fazer o máximo para que não consiga), mas vamos nos lembrar do seguinte – ele não pode cortar o suprimento interior, Cristo, nossa vida. Se mantivermos nosso relacionamento em tempos de paz, estaremos preparados quando o cerco chegar. Provisão foi dada para as piores condições possíveis; se apenas permanecermos em Cristo, iremos experimentar que, independente de estarmos em comunhão com outros, ou estarmos em um deserto sozinhos, a promessa é segura: “O seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas”.
Vendo o Cristo Entronizado
“Os teus olhos verão o rei na sua formosura” [vs 17 a]. Não vamos confundir essa promessa com que vem em seguida – “verão a terra que se estende até longe”. Não veremos o rei em uma terra distante, mas bem do nosso lado. É verdade que O veremos na glória, mas devemos aprender a lição espiritual efetiva no significado da promessa que foi dada através de Isaías. A necessidade de Jerusalém naquele momento não era de um rei distante, vislumbrado à distância, mas de um encorajamento presente durante aquela prova, por meio da presença do rei entre eles. Muitos de nós ficaremos encorajados pela perspectiva de um dia poder ver o Senhor, mas também precisamos da visão presente que nos é oferecida: “Vemos… Jesus… coroado de glória e de honra” (Hb 2:9).
Não estamos sozinhos no cerco, porque o rei está entre nós. Não devemos imaginar onde Ele está, devemos vê-Lo por nós mesmos. Ezequias, o rei, não estava em um país distante, mas estava lá, em Jerusalém, se movendo entre o seu povo. Seus olhos o viram. Mas eles não o viram em sua beleza. Naquele tempo, ele estava vestido de pano de saco (Is 37:1), não em vestes reais. Suas vestes eram de contrição e humilhação. A promessa, portanto, se referia a gloriosa mudança que iria ocorrer, quando toda a limitação e luto seriam deixadas para trás, e o rei então apareceria novamente em suas autênticas vestes – “o rei na sua formosura”.
Nós também precisamos ver o Senhor além dos panos de saco. É verdade que Ele suportou por nós a humilhação e a vergonha. De fato, Ele foi humilhado e quebrantado por nós para nossa salvação. Nunca desejaremos nos esquecer disso. Mas quando o diabo está tentando nos oprimir e destruir, quando a pressão do seu assalto maligno tenta nos sufocar, precisamos ver mais do que isso.
Precisamos apreciar não apenas a vergonha da Cruz, mas a sua subsequente glória – o Rei, não em pano de saco, mas em formosura. Não posso imaginar maior encorajamento para os Israelitas sitiados, do que poder ter visto Ezequias colocando de lado suas vestes de jejum, e calmamente se assentando no seu trono, em toda sua majestade, como se houvesse paz e prosperidade em meio a tudo aquilo. Mas eles tinham apenas a promessa que isso iria acontecer. Entretanto, nós hoje temos a garantia de que isso aconteceu com o nosso Rei. “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus” (Hb 10:12). “Olhando firmemente para… Jesus, o qual… suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12:2).
Acredito que quando Ezequias não estava com pano de saco, estava vestido com sua armadura, como um rei guerreiro. A promessa, entretanto, apontava para um dia, quando não haveria necessidade de armadura, e o rei poderia reconquistar seu tempo de paz em esplendor. Pode ter sido correto para Ezequias estar com a armadura naquela ocasião. Seu povo estava batalhando, e todos estavam em meio à um feroz conflito, era então conveniente que o rei tomasse seu lugar entre os soldados que estavam prontos para resistir ao inimigo. À medida que a batalha ficasse mais violenta e o inimigo retomasse seus ataques, isso traria encorajamento ao povo; saber que o seu rei estava no seu meio, compartilhando dos seus esforços e perigos.
Entretanto, isso também traria alguma ansiedade no que tangia ao resultado final. É de muita ajuda para nós saber que o Senhor Jesus está compartilhando de nossas batalhas, lutando conosco. Certamente pensamos com frequência nEle dessa forma: “seus olhos verão o Seu rei em Sua armadura!”. É verdade, Ele tem uma armadura e uma espada; entretanto, precisamos ter a visão da fé para O contemplarmos como Aquele que combateu o bom combate, derrotou o inimigo, e agora está vestido como um poderoso Conquistador.
Somos tão frequentemente impressionados pelas forças do mal e pela intensidade da batalha que, se conseguirmos de alguma maneira ver o Senhor, parece que O vemos lutando, como se assim fosse, as nossas lutas, e envolvido nos nossos perigos. Estamos lutando, então pressupomos que o Senhor também está batalhando para manter Sua posição. Assim deve ter sido para os judeus, ao ver Ezequias aparelhado para o combate. A promessa de Isaías, no entanto, nos oferece algo melhor do que isso. A visão seria bem mais abençoada que essa, eles veriam o rei triunfante e seguro, coroado e vestindo suas vestes de coroação.
O que isso significa espiritualmente? Significa que a batalha está, de fato, vencida. A questão está decidida! O Senhor Jesus não está lutando – Ele está reinando! A promessa é que nossos olhos O verão, mas O verão em Seu triunfo final. No que diz respeito a Ele, a questão já está decidida. Aquele que está conosco é encontrado em resplandecente majestade e glória, devido a uma batalha que Ele já lutou e venceu, e essa questão já está resolvida de forma final e permanente para sempre. O trono está assegurado. Mesmo neste momento, Ele está “coroado com glória e honra”[Hb 2:9] – “o rei na sua formosura”.
Uma visão como essa é essencial para que possamos triunfar em nossas experiências pessoais. Uma fé real é necessária para que possamos nos apropriar de uma promessa como essa, uma vez que, como já foi apontado, essa visão não deriva de condições fáceis e tranquilas, ao contrário, ela deve ser experimentada no meio do calor do violento ataque satânico. O diabo sempre quer nos levar a olhar para longe do Senhor. O seu objetivo é frequentemente nos deixar preocupados com sua força e suas atividades, como de fato aconteceu com os Judeus sitiados, quando tinham aquelas forças hostis acampadas ao seu redor. Seus olhos não deveriam ver o adversário, exceto quando isso estivesse relacionado à visão central do rei em seu triunfo.
Não podemos ignorar que existe um inimigo, e que é nossa responsabilidade permanecer firmes contra ele; mas devemos nos acautelar do risco de sucumbir às suas astúcias, concentrando muita atenção nele, nos esforçando e lutando contra ele como se a disputa entre o seu trono e o trono de Cristo não estivesse definitivamente resolvida na Cruz.
Nossa ‘firmeza’ não é para obter vitória, mas é pela afirmação de que ela já é um fato. A maior necessidade e o mais importante fator neste dia mau é manter os olhos no Senhor glorificado; em meio à pressão e o conflito devemos olhar para o outro lado daquilo que parece ser a causa do nosso problema, ou daqueles que estão nos trazendo dificuldades, para longe do próprio Satanás em direção ÀQUELE que está à destra da Majestade nos céus.
O diabo não se incomoda com o fato de falarmos dele, nem se perturba necessariamente quando estamos orando sobre ele. O que traz sua derrota é quando glorificamos o Cristo ressurreto, alegremente afirmamos o triunfo do Calvário, quando cantamos louvores sobre o Rei em Sua majestade. Isso o leva a se afastar em desespero. O diabo não pode suportar a pura atmosfera de louvores ao Cordeiro, da mesma forma como não suportamos a atmosfera imunda de homens maus que servem e adoram a Satanás. O segredo da vitória, então, é manter em vista o glorioso triunfo de Cristo – “Os teus olhos verão o rei na sua formosura”.
Continua no próximo post.
Tradução do texto “Breaking the Satanic Siege”, Cap. 2 do livro “Strong in the Day of Battle”, Livro publicado pela Emmanuel Church.
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