Participante de Cristo
“Porém Saul e os homens de Israel se ajuntaram, e acamparam no vale de Elá, e ali ordenaram a batalha contra os filisteus. Estavam estes num monte do lado dalém, e os israelitas, no outro monte do lado daquém; e, entre eles, o vale. Então, saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, da altura de seis côvados e um palmo. Trazia na cabeça um capacete de bronze e vestia uma couraça de escamas cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. Trazia caneleiras de bronze nas pernas e um dardo de bronze entre os ombros. A haste da sua lança era como o eixo do tecelão, e a ponta da sua lança, de seiscentos siclos de ferro; e diante dele ia o escudeiro. Parou, clamou às tropas de Israel e disse-lhes: Para que saís, formando-vos em linha de batalha? Não sou eu filisteu, e vós, servos de Saul? Escolhei dentre vós um homem que desça contra mim. Se ele puder pelejar comigo e me ferir, seremos vossos servos; porém, se eu o vencer e o ferir, então, sereis nossos servos e nos servireis. Disse mais o filisteu: Hoje, afronto as tropas de Israel. Dai-me um homem, para que ambos pelejemos. Ouvindo Saul e todo o Israel estas palavras do filisteu, espantaram-se e temeram muito” (1Sm 17:5-13).
O Vale de Elá, ou vale do Terebinto, foi onde as tropas de Israel foram intimidadas pelo gigante Golias. Na ocasião, o gigante desafiou o povo a levantar um guerreiro que pelejasse contra ele. A peleja deles definiria a batalha entre Israel e os Filisteus. Nesse sentido, temos o aspecto pessoal da batalha espiritual. A vitória de um homem representaria a vitória de toda uma nação.
Na ocasião, nenhum dos soldados se dispôs a enfrentar aquele gigante.
Davi apareceu ali porque foi buscar notícias de seus irmãos para seu pai, e ouviu (vv 23) as afrontas que o Filisteu fez ao Deus de Israel. Ele ficou impressionado e ultrajado com a atitude dele (vv 26) e entendeu que alguém precisava calar aquele Filisteu. Por isso, se ofereceu para enfrentar o gigante. Saul tentou oferecer a ele a sua armadura, mas Davi disse que não poderia lutar com uma armadura que nunca usou antes. As armas que Davi escolheu foram as armas que usou em sua vida secreta, quando estava sozinho pastoreando as ovelhas de seu pai. A força e confiança que Davi tinha foram fruto de suas experiências solitárias com suas ovelhas (vv 32-40), um trabalho aparentemente pequeno e sem valor aos olhos naturais.
É muito sugestivo o fato dessa batalha ter sido travada no Vale de Elá. As árvores que crescem naquela região e nas montanhas de Israel são chamadas Terebintos (Pistacia terebinthus), e geralmente crescem solitárias. Se deixadas crescendo sem interferência, podem chegar à idade de mil anos. Por isso eram consideradas marcos e memorial para os mortos. Uma de suas caraterísticas é que ela desenvolve um sistema de raízes profundas e extensivas, e como consequência, tem folhas verdes, mesmo em períodos de seca. Por isso, mesmo cortada no seu tronco, ela pode rebrotar novamente.
Poderíamos dizer que essa árvore representa, em certo sentido, nossa vida interior com Deus. Nosso relacionamento com Deus é individual, sendo desenvolvido na intimidade, sem a presença de companheiros. Ninguém pode desenvolver a vida espiritual de outra pessoa. Isso é fruto de nossa vida com Deus, de forma individual.
“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará” (Mt 6:6).
Por crescer isoladas, essas árvores podem ser vistas à grandes distâncias, sendo usadas para orientação no caminho e identificação de localidades.
Se pensarmos que a batalha contra Golias foi solitária – Davi enfrentou tudo aquilo sozinho – percebemos que a vitória de Davi estava relacionada aos anos de solitude com Deus, enquanto cumpria sua função de pastor. Nesse tempo, Davi enfrentava as adversidades sozinho com suas ovelhas, dependendo de Deus para tudo. Isso gerou nele uma fé que lhe possibilitou enfrentar, com tão grande confiança, um opositor tão assustador.
Davi não foi formado por Deus do dia para a noite. Sua vida interior, secreta com Deus, permitiu uma expressão exterior de fé tal, que levou a sua libertação – e de todo Israel – das ameaças do inimigo.
Naquela ocasião, Davi também tipificou lindamente o nosso Salvador, que sozinho enfrentou a batalha contra nosso inimigo, vencendo por todos nós. Somos sarados, libertos, salvos pela fé, graças à confiança inabalável que o Filho de Deus tinha em Seu Pai.
Por um lado, Davi tipificou a Jesus e, por outro, tipificou a Igreja. Se quisermos reinar com Cristo, também precisaremos vencer o inimigo (Ap 3:21; 12:11). Essa vitória não é baseada em nós mesmos, mas é baseada na vitória do Senhor Jesus – no Sangue do Cordeiro. Davi testemunhou lindamente em sua vida sobre um princípio que Moisés havia declarado em Deuteronômio: o Senhor é quem vence a guerra.
“Quando saíres à peleja contra os teus inimigos e vires cavalos, e carros, e povo maior em número do que tu, não os temerás; pois o Senhor, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, está contigo. Quando vos achegardes à peleja, o sacerdote se adiantará, e falará ao povo, e dir-lhe-á: Ouvi, ó Israel, hoje, vos achegais à peleja contra os vossos inimigos; que não desfaleça o vosso coração; não tenhais medo, não tremais, nem vos aterrorizeis diante deles, pois o Senhor, vosso Deus, é quem vai convosco a pelejar por vós contra os vossos inimigos, para vos salvar” (Dt 20:1-4).
Se compararmos esse texto com a resposta de Davi, vemos que em todo tempo ele tinha confiança de que iria vencer pelo Senhor, e não pelas suas armas, sua força ou sua capacidade. Sua vitória iria refletir a grandeza de Deus!
“Davi, porém, disse ao filisteu: Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do SENHOR dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado. Hoje mesmo, o Senhor te entregará nas minhas mãos; ferir-te-ei, tirar-te-ei a cabeça e os cadáveres do arraial dos filisteus darei, hoje mesmo, às aves dos céus e às bestas-feras da terra; e toda a terra saberá que há Deus em Israel. Saberá toda esta multidão que o SENHOR salva, não com espada, nem com lança; porque do Senhor é a guerra, e ele vos entregará nas nossas mãos” (1 Sm 17:45-47).
Hoje, a Igreja está na terra para expressar e manifestar a vitória do Rei Jesus. Cada vez que superamos, pela fé, o nosso inimigo, trazemos glória ao Senhor Jesus. Seu nome é engrandecido e glorificado. Também estamos sendo treinados e preparados para aquele momento quando o Reino do nosso Amado Rei será manifestado visivelmente – todo olho o verá. Entretanto, o elemento da fé não é desenvolvido do dia para a noite, mas demanda experiências, relacionamento, espera… e essa fé é individual e intransferível. Por isso, todos teremos nossas batalhas pessoais e intransferíveis, que nos conduzirão a uma entrega e confiança cada vez maiores ao Senhor.
Que possamos manter esse foco, que vai nos dirigir a encarar nosso dia a dia com outra perspectiva, porque cada pequeno desafio pode nos levar a um maior conhecimento de Deus, um aprendizado mais amplo da vida de ressurreição e de quem é nosso Senhor Jesus.
“Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder” (Efésios 1:15-19).
Tomemos a oração de Paulo como nossa! Abre nossos olhos, Senhor!
2 Comentários. Deixe novo
EXCELENTE ESTUDO MUITO EDIFICANTE
Parabéns pelo estudo, certamente, fruto de enraizamentos solitários…