C. A. Coates
“Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome. Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o Maligno. Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno. Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”.
1 Jo 2:12-16
Texto base: 1 João 2:12-28
Deveria estar bem claro para todo Cristão que existe algo chamado crescimento espiritual. Nos versos diante de nós, temos alguns dos filhos de Deus denominados como “filhinhos” ou “bebês”, outros como “jovens”, e outros como “pais”. Em conexão a isso, é importante observarmos que nos versos 1, 12, 28 do capítulo 2, nos versos 7,18 do capítulo 3, no verso 4 do capítulo 4, e no verso 21 do capítulo 5, de 1 João, a tradução da palavra grega original deveria ser “crianças” (teknion) em vez de “Filhinhos”. Esses versos são endereçados a todos os filhos de Deus. Entretanto nos versos 2:13,18 a palavra usada é corretamente traduzida como “filhinhos” [paidion], correspondendo aos bebês da família.
A Remissão dos Pecados
Antes que o apóstolo passasse sua mensagem às três diferentes classes – bebês, jovens e pais – ele afirma algo que é comum a todos os filhos. “Filhinhos, eu vos escrevo, por que os vossos pecados são perdoados, por causa do seu nome” (verso 12). Que afirmação preciosa! Isso é verdadeiro para todos os filhos de Deus — cada crente no Senhor Jesus Cristo! Não está relacionado com o crescimento do cristão. Isso é tão verdade para o menor bebê em Cristo, como para o pai mais idoso. Deixe-me perguntar: você desfruta da bênção dessa grande remissão? Quando você diz: “Eu creio no perdão dos pecados”, você se refere aos pecados de quem? Claro que você crê que Pedro, Paulo, João e o resto dos santos em comunhão com os apóstolos tinham seus pecados perdoados! Mas em que isso beneficia você? Você precisa de perdão para os seus pecados. Você pode dizer na presença de Deus “Meus pecados estão todos perdoados!”? Seria uma presunção mortal para você dizer isso se não fosse verdade. Te advirto a ser cuidadoso: é uma coisa terrível para um pecador supor que seus pecados são perdoados quando não o são. Mas, se Deus está proclamando a remissão dos pecados em nome do Senhor Jesus, e está dando a certeza do perdão a todo o que crê, você só pode afirmar que seus pecados não estão perdoados por incredulidade ou indiferença.
O Filho de Deus — Jesus Cristo, o justo — veio ao mundo e lidou com o pecado. Nós podíamos cometer pecados, mas não conseguíamos colocá-los de lado. Uma Pessoa divina foi necessária para realizar isso, e em amor e graça, Ele veio. “Jesus Cristo o justo… é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” [1 Jo 2:1,2].
Pense na realização da grande obra realizada quando Ele “sofreu pelos pecados”! E para quem foi esse benefício conquistado? Seriam somente os filhos da promessa que teriam esse título de direito? Esse perdão comprado por meio do sangue? Não! O coração de Deus considerou todo o mundo em Seu amor e graça, e a expiação era proporcional ao poderoso escopo desse amor e graça. “Não somente para nós”, diz o apóstolo, “Mas para o mudo inteiro”. Oh! A grandeza Divina dessa obra preciosa da expiação dos pecados!
Note particularmente como essas coisas são declaradas. Acredito que se nós tivéssemos escrito isso, faríamos dessa forma: “como Ele fez a propriação pelos nossos pecados”, mas não é assim que diz o Espírito Santo. O abençoado Espírito deseja concentrar todos os nossos pensamentos NA PESSOA que fez a obra, e não na obra em si, portanto Ele diz, “ELE é a propiciação pelos nossos pecados”. Todo o valor da obra reside na Pessoa que a realizou. Se você deseja desfrutar do benefício dessa obra deve ir até ELE pela fé — você deve crer no Seu Nome.
Uma ilustração muito simples deve ajudar você a entender melhor o que estou falando. O estudante de medicina se debruça sobre seus livros, faz suas dissecações, anda nos hospitais, e trabalha para obter prática. Mas quando a obra é completada, e ele chega à sua graduação, todo o valor do trabalho está na pessoa que o fez. Se você deseja o benefício desses longos estudos e trabalho, você deve ir até a pessoa que o fez.
É assim na questão do perdão. A grande obra de expiação foi consumada — de uma vez por todas — no Calvário; mas todo o valor dessa obra reside hoje na gloriosa Pessoa que o realizou. “ELE é a propiciação pelos nossos pecados”. Nunca, desde o momento que Ele clamou, “Está consumado!”, até toda a eternidade futura, nenhum til ou vírgula pode ser adicionado à perfeição de Sua obra de expiação.
Toda a eficácia e todo valor dessa obra está disponível para todo pecador debaixo do céu, e isso é assegurado pela fé na Pessoa que o realizou. A Proclamação do Evangelho é clara o suficiente. Ouça! “Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se VOS anuncia remissão de pecados por intermédio deste; e, POR MEIO DELE, todo o que crê é justificado de todas as coisas” (At 13:38,39).
O Filho de Deus foi outrora aqui humilhado, demonstrando incomparável graça, foi morto sobre a cruz para realizar a expiação do pecado, mas hoje está glorificado à destra de Deus. Ele é estabelecido da parte de Deus como propiciação pelos nossos pecados. E a cada um que crê no Seu Nome abençoado é dito: “Seus pecados são perdoados por causa desse Nome”.
Temos Paz com Deus. Somos Seus Filhos
Mas isso não é tudo. O perdão dos pecados também resolve toda a questão relacionada com nossa responsabilidade histórica como homens e mulheres nesse mundo. Ele remove o fardo da culpa de nossas consciências, de forma que “temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” [Rm 5:1], e grande é a bênção que desfrutamos por meio disso. Mas fé em Cristo não apenas assegura isso para nós, mas nos introduz a uma inteiramente nova posição e relacionamento.
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1:12). Crentes tem o direito de tomar o lugar como filhos de Deus. O fato que eles recebem Cristo crendo no Seu nome, é a prova de que são nascidos de Deus (veja João 1:13). Eles são de natureza familiar com Deus, e eles recebem e apreciam aquilo que vem de Deus.
Um bebê não é um personagem muito importante em si mesmo; tudo depende da família na qual ele nasceu. Pense em como é tremendo ser um filho nascido na família de Deus. Jovem crente, grande é a sua dignidade e muitos são seus privilégios, devido à grandeza da posição e relacionamento no qual o divino amor te chamou. Devemos então exclamar, “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus.” (1 Jo 3:1). A grandeza moral disso sobrepuja infinitamente toda a dignidade que o mundo pode oferecer. A apreensão disso torna o Cristão corajoso, mesmo quando enfrentando rejeição e desprezo nas mãos dos homens – isso o deixa disposto a ser desprezado e desconhecido pelo mundo que “não O conheceu”.
A primeira coisa que é dita dos “filhinhos, ou bebês” é que eles têm “conhecido o Pai” (2:13). Nisso temos a verdadeira essência da bênção Cristã. “O Pai” é o Nome abençoado no qual Deus Se revelou por meio de Seu Filho amado, em toda a plenitude de Sua graça infinita. Não existe nada que penetra mais lentamente nos corações humanos do que a consideração da graça. De fato, muitas pessoas verdadeiramente convertidas estão muito distantes de ter alcançado o conhecimento do Pai. Somos, frequentemente, lentos para crer que chegamos pela fé a todos os privilégios e alegrias da graça infinita, sem ter nenhum átomo de bondade, ou nenhuma espécie de mérito em nós mesmos. Então, novamente, muitos parecem gratos em ouvir sobre o livramento da morte e do julgamento, e sobre a remissão dos pecados, mas não parecem interessados na graça da qual essas bênçãos fluem.
Alguns podem chamar isso de humildade e permanecer satisfeitos com apenas essa medida de bênção que vai aliviar a consciência culpada e remover os temores da alma, mas isso é realmente egoísmo e indiferença a essa graça. O filho pródigo, no país distante onde estava, poderia ter considerado humildade pedir para ser um servo contratado na casa de seu pai, mas esse desejo não podia escapar dos seus lábios quando o pai se lançou no seu pescoço e o beijou. É a humildade da fé que aceita com alegria e louva a plenitude da bênção que a Graça se deleita em conceder. Quando o filho pródigo se encontrou sentado à mesa do pai, vestido, com anel no dedo, calçado, festejando, poderia ser dito a ele, “Você tem conhecido o Pai”. Ele havia chegado ao círculo da Graça. Sua recepção foi totalmente de acordo com o coração do pai, e de maneira nenhuma de acordo com seus próprios merecimentos.
A partir do momento que nos voltamos para Deus, tudo depende do que Ele é, e a graça na qual Ele nos recebe apenas pode ser medida pelo Senhor Jesus Cristo, que está ascenso e glorificado à Sua destra. Nada poderia se encaixar melhor no coração de Deus do que isso, que tomássemos o lugar e aceitação como filhos diante Dele. Ele nos predestinou para a filiação “de acordo com o beneplácito da sua vontade, para louvor da glória da Sua graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no amado” (Ef 1:5,6). Que resposta triunfante Deus deu à calúnia da serpente e aos pensamentos incrédulos do homem caído! Ele mostrou quem Ele é na bênção da graça, que foi empreendida para assegurar as bênçãos infinitas ao homem, independente de todos os obstáculos que o pecado tenha colocado no caminho. O Senhor ama ser conhecido e ama quando confiamos em Seu caráter. O evangelho O torna conhecido nessa glória da graça. Os bebês conhecem o Pai, eles conhecem Deus em Sua infinita graça.
A Oposição à Cristo
Nos versículos 18-27 os filhinhos são advertidos das seduções de muitos anticristos. Considerando o mundo, esta é a “última hora”. A manifestação de Cristo acabou em Sua rejeição, e desde então, o mundo tem tomado o caráter do anticristo. A vinda de Cristo — o Ungido e Santo do Único Deus — ao mundo, trouxe à luz o seu verdadeiro caráter e o seu príncipe. O fato de Deus ter Se revelado em Cristo, e demonstrado todo o Seu bom prazer nesse Homem neste mundo, causou uma oposição definitiva do poder das trevas e do mal em relação a esse Santo. Toda essa oposição vai, em um dia que se aproxima rapidamente, encontrar seu cabeça e centro no próprio anticristo, mas “ainda hoje muitos anticristos tem surgido”. Os princípios que vão caracterizar o anticristo em pessoa estão sendo disseminados pelo mundo todo, de uma forma secreta e sedutora, por meio dos “muitos anticristos”, para distrair o homem — e especialmente aqueles que já tiveram a luz do Cristianismo — do verdadeiro conhecimento de Deus.
Os bebês são advertidos contra duas formas de oposição à Cristo — a negação de Jesus como o Cristo, e a negação do Pai e do Filho. A primeira é especialmente dirigida aos Judeus em sua forma de incredulidade. Desiludidos pelo pai da mentira, os Judeus negam que Jesus é o Cristo, e persistem nesse erro até hoje. “O Cristo” é Aquele em quem todo o prazer de Deus é encontrado, e em quem é estabelecida a bênção para toda a humanidade. A negação de que Jesus é o Cristo, é o esforço do inimigo de distrair o homem Dele, como Aquele em quem o prazer de Deus e a bênção do homem estão plenamente estabelecidos.
Mas a negação do Pai e do Filho se apoia na própria essência da obra do anticristo dentre o âmbito do Cristianismo. Em meio à Cristandade, o esforço de Satanás não é o de apresentar Jesus como um impostor e blasfemo. O espírito do anticristo opera de uma forma bem mais sutil. Muito é professo sobre Jesus como o maior Mestre e Exemplo que o mundo já viu. Ele é exibido como o Desejado das nações, e o Ideal da humanidade. Mas sob essa capa, a plena verdade do Cristianismo – a revelação do Pai no Filho — é negada. Cristo é transformado em um grande homem, tendo em vista roubar Dele Sua glória pessoal como o Filho do Pai. É preciso falar francamente sobre isso, pois hoje, dificilmente existe um grupo de cristãos professos que não esteja em grande parte imbuído do fermento do Unitarismo. Unitários estão muitas vezes ansiosos para ser chamados cristãos, mas eles são realmente tolos infelizes e ferramenta do anticristo. Nos dias apostólicos havia o poder e a fidelidade a Cristo na Igreja, e por isso os anticristos não conseguiam permanecer entre os santos. “Eles saíram de nosso meio” [1 Jo 2:19]. Foi de fora que eles tentaram conduzir seu trabalho de seduzir os filhinhos. Mas em nossos dias, muitos desses anticristos são altamente estimados como mestres do Cristianismo, e toda a sua profissão de fé se torna em parte levedada por sua influência.
Os Filhinhos são Preservados pela Unção que Dele Receberam
Sob essas circunstâncias como os filhinhos serão preservados? A resposta a esta questão está no verso 27: “a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou”. Os filhinhos, ou bebês tem recebido o Espírito Santo como a unção divina para que eles possam ser ensinados por Deus, e portanto, são divinamente ensinados a buscar toda a verdade em Cristo, o Filho de Deus. A unção permanece em nós, e sempre nos ensina a encontrar toda a verdade na Abençoada Pessoa de quem ouvimos desde o princípio, e portanto, à medida que somos divinamente ensinados, “permanecemos nele”. Encontramos tudo Nele, e permanecemos. Deixá-Lo seria deixar a verdade e cada bênção. Devemos dizer, junto com Pedro, “Senhor, pra quem iremos? Só tu tens as palavras de vida eterna” (Jo 6:68).
O Espírito Santo nunca vai nos ensinar nada que não foi demonstrado em Cristo. Ele nos conduz a um descortinar desse Ser Abençoado aos nossos corações, nos aprofundando cada vez mais na graça e na verdade. Se começamos a conhecer Cristo, é isso que vai preencher nossa eternidade com bênção e alegria. Cada alegria terrena — até mesmo a doce e santa alegria dos relacionamentos e afeições naturais — passará, mas a alegria que nossos corações têm em Cristo é eterna em seu caráter — é um pouquinho daquilo que vai preencher nossa eternidade. Satanás tenta nos distrair por milhares de coisas que não são “segundo Cristo” (Cl 2:8), mas a unção que recebemos Daquele que é Santo, sempre nos ensina a “permanecer Nele”. A plenitude da Divindade habita corporalmente Nele, e é nossa grande bênção ser plenamente cheios Nele que é o Cabeça de todo principado e potestade. A unção atrai nossos corações para Cristo com a mesma constância que a influência magnética atrai a agulha para o pólo.
Em João 14, lemos: “o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (verso 26). Em João 15, lemos: “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim (verso 26). Em João 16:13 e 14, lemos: “Ele vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”. O Espírito Santo é portanto aquele que traz Cristo a Memória, como se Ele aqui estivesse, é Aquele que Testifica que Cristo está agora com o Pai, e é o Revelador das coisas “que hão de vir”, quando tudo no céu e na terra encontrarão seu Centro em Cristo, de acordo com o conselho do Pai. Portanto, independente do Espírito tomar algo do passado, do presente ou do futuro, Cristo é a substância do Seu ministério e o tema do Seu ensino. Portanto, à medida que somos ensinados pela unção que recebemos, “permanecemos nele”. Que isso seja verdadeiramente real em cada um de nós!
Alguém pode conhecer cada versículo na Bíblia e não ter nenhuma familiaridade com a verdade. Não é possível adquirir um conhecimento da verdade por meio de um estudo mental da letra nas Escrituras. A verdade é apresentada em uma Pessoa, e é na medida em que conhecemos Jesus e permanecemos Nele, que conhecemos a verdade. O Espírito Santo poderá tornar Cristo tudo para nós. Ele vem a nós como o “Espírito da Verdade”, para que a verdade demonstrada em Cristo possa habitar em nós e permanecer para sempre conosco (2 Jo 2).
A Força dos Jovens
Agora vou dizer algumas palavras sobre “os jovens”. Deles é dito que são fortes, que tem a Palavra de Deus habitando neles, e que tem vencido o maligno (1 Jo 2:14). Se o “filhinho” permanecer firme na graça de Deus e, no ensino do Espírito, permanecer em Cristo como Aquele em quem toda a verdade é demonstrada, ele rapidamente possuirá as características de um “jovem”. Ser “forte” seria o resultado do conhecimento do Pai; isso é, seria o efeito de ter um coração “estabelecido na graça”. Então o efeito de ser ensinado pela unção a permanecer em Cristo, tendo toda a verdade demonstrada Nele, seria que a palavra, ou testemunho, ou Deus habitaria nos santos. Portanto, os esforços do maligno em seduzi-los seriam frustrados. Eles se recusariam a ser distraídos de Cristo como A Verdade, e portanto continuariam no Filho e no Pai. Eles venceriam o maligno. Para esses, a solene advertência é endereçada: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo” (1 Jo 2:15,16).
Algumas vezes é assumido que os “filhinhos” estão sob um maior risco de ser atraídos para o mundo e suas concupiscências, mas o Espírito Santo endereça essa solene advertência aos “jovens” e não aos “filhinhos”. O esforço especial do inimigo com os “bebês” é corrompê-los da verdade, e distraí-los da graça e do conhecimento do Pai e do Filho — o que pode ser chamado de erro religioso ou falsa doutrina. Mas se seus esforços forem resistidos, e a Palavra de Deus encontrar um lugar para habitar nos santos, ele toma uma linha diferente. Muitos foram capazes de detectar e resistir às falsas doutrinas, entretanto foram mais tarde iludidos pelo mundo. É de extrema importância que recebamos a advertência dada aqui, e que possamos também ver como os santos são divinamente preservados do mundo e suas concupiscências.
O Mundo
Vamos considerar por um momento o que é “o mundo”. É todo o sistema de coisas que veio à existência depois da entrada do pecado. Um sistema vasto e complexo, onde tudo que ministra os desejos, sentidos e vaidade do homem caído podem ser encontrados. Existem três grandes “tipos” do mundo nas Escrituras, que respondem às três coisas que estão no mundo. Sodoma é um tipo do mundo caracterizado pela concupiscência da carne; Egito representa o que é marcado pela concupiscência dos olhos; e Babilônia representa a soberba da vida. Em adição à esses, penso que Tiro e Sidom são tipos do mundo comercial, enquanto “Jerusalém atual” [Gl 4:25] se tornou um símbolo do mundo religioso. Mas, no que tange ao seu caráter moral, o mundo comercial e o religioso apenas apresentam diferentes fases dos três princípios que são ditos como “tudo que há no mundo”.
“A concupiscências da carne” se refere aos apetites mais básicos e grosseiros do homem — sensualidade, intemperança no comer e beber, autoindulgência do corpo em todos os sentidos. Verdadeiramente, é bem uma sumarização do que é dito de Sodoma: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado” (Ez 16:49). É bem verdade que Satanás também prepara tropeço para as mãos ociosas, assim como aconteceu com Davi para seu próprio prejuízo (2 Sm 11:1).
“A concupiscência dos olhos” se refere à autoindulgência de uma forma ainda mais refinada. Os olhos são uma figura da inteligência, e existem inúmeros tipos de coisas no mundo que concedem gratificação à mente do homem. O Egito tipifica o mundo nesse aspecto; lemos sobre “a sabedoria dos Egípcios”. Ciência, literatura, música, teatro e outros entretenimentos, e diversas formas presentes de gratificação que se encaixam aos mais diferentes gostos das diversas mentes. É por meio dessas coisas que os “jovens” são expostos ao perigo de serem enganados. O coração deve ser afastado dessas coisas, que parecem interessantes e inocentes em si mesmas. Você não “vê mal algum” nisso ou naquilo? Talvez não, mas é do Pai ou do mundo? Muitas coisas parecem inofensivas, mas seu efeito é de encurtar o caminho entre o seu coração e o mundo, e te tornar mais próximo dos homens na carne. É provável que nada tenha secado mais as almas dos jovens Cristãos, que o hábito de ler ou assistir romances de ficção. Você pensa que pode manter saúde espiritual, enquanto gratifica a sua carne, alimentando-a com a própria essência do mundo, que é o que os romances e novelas são? Romances religiosos são ainda piores do que o tipo comum, pois eles conectam as coisas divinas com uma excitação mental que não é saudável aos olhos de Deus.
“A soberba da vida” é essa paixão vaidosa que ama ser alguém nesse mundo – ter um lugar e um nome aqui. Essa paixão vai encontrar sua plena expressão na Babilônia, onde toda a glória e magnificência do homem e suas obras se manifesta. Cada prédio religioso adornado e cada alto pináculo traz um pouco da Babilônia. Os homens tem tomado o Cristianismo como um nome, mas não desejam receber a difamação de Cristo; por isso tem dado o seu melhor para acrescentar ao Cristianismo a grandeza e a glória desse mundo, assim o orgulho do homem pode ter sua demonstração plena sobre a capa do nome de Cristo.
Preservados do Mundo pelo Amor do Pai
Como vamos ser preservados do mundo e dessas coisas? O Versículo 15 sugere a resposta: “se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele”. Se o amor do Pai está em nós, ele se torna uma fonte de preservação divina do mundo. Somos formados e caracterizados pela natureza divina, e essa santa natureza não tem desejos que encontrem gratificação nas coisas do mundo. O divino não pode ser atraído pelas coisas que “não são do Pai”. Nosso crescimento espiritual não deve ser medido pelo nosso conhecimento das Escrituras, mas pelo grau de nossa formação na natureza divina. A Inteligência espiritual é muitas vezes mais adiantada que a formação espiritual, e onde isso acontece, grande é o perigo da alma ser fisgada pelo mundo.
Os bebês tem o conhecimento da graça, mas tem que crescer nela. A unção os ensinou a encontrar toda a verdade em Jesus Cristo, o Filho de Deus, mas eles têm que “permanecer nele”. E “permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis vós no Filho e no Pai” (vs 24). À medida que crescemos na graça abençoada de Deus, e permanecemos no Filho de Deus, somos formados espiritualmente de acordo com a vontade de Deus. Isso não quer dizer que nos tornamos mais familiarizados com a letra e a doutrina das coisas, mas a verdade molda nossas afeições de forma que somos alargados no nosso conhecimento e apreciação do Pai e do Filho. Então chegaremos à estatura de “jovens”, e nos tornaremos capazes de ter um discernimento inteligente, e reconheceremos que o mundo e suas coisas não são do Pai. Não precisamos discorrer sobre os méritos e desmerecimentos das coisas em detalhes. Teremos um julgamento de todo o sistema, e de tudo que ele contém. Ele “não é do Pai”. Por meio da graça encontramos a bênção e a alegria em outro sistema de coisas, que tem seu Centro eterno no Cristo glorificado à destra de Deus. Não podemos ter as coisas do mundo e as coisas do Pai e do Filho. Não existe algo como estar meio-a-meio nesse assunto. “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”. Aqueles que prevalecem às seduções de muitos anticristos e vencem o mundo, chegam ao terceiro estágio de crescimento espiritual.
Os Pais Conhecem Cristo
“Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio”. E isso é tudo que ele tem a dizer aos “pais”, e isso é infinitamente abençoado. Eles encontraram descanso e satisfação em seus corações através do conhecimento de Cristo. A experiência de Paulo, como descrito na carta aos Filipenses, é a experiência de um “pai”. Andando em autojulgamento e absoluta desconfiança da carne, ele tinha apenas um objeto diante de si. Nenhuma voz sedutora foi capaz de fasciná-lo, afastando-o da luz da graça divina que muitos anos antes havia brilhado diante dele. A cruz se tornou sua desejada glória, como uma barreira intransponível entre seu coração e o mundo. Cristo o atraiu e o absorveu. Por Cristo, ele sofreu a perda de todas as coisas, e considerou todas as melhores coisas da terra como refugo, para que ele ganhasse a Cristo. “Para o conhecer” era o desejo penetrante de seu coração, e ser como Ele – e um com Ele – era seu alvo, objetivo para o qual ele progredia em um propósito inabalável. Ele conheceu “aquele que era desde o princípio”, e seu coração encontrou tudo Nele, o Abençoado.
Mas será que isso é verdade apenas para um apóstolo? Claro que não. É instrutivo notar que ele não escreve essa epístola como um apóstolo, mas como um servo de Jesus Cristo (Fp 1:1). Tenho certeza de que todos estão perfeitamente conscientes de quão pequenos somos em comparação com Paulo, e como estamos distantes dele na corrida, mas acredito que muitos de nós temos nossas faces voltadas para a mesma direção. Existe um grande Objeto no Cristianismo, e este é Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Revelador do Pai. Todo crescimento espiritual é crescimento no conhecimento Dele. Ele é precioso aos “filhinhos”, e à medida que eles permanecem Nele e crescem até a estatura de “jovens”, eles O conhecem melhor. Entretanto, para os “pais”, Ele se tornou praticamente o tudo. Possa Deus graciosamente nos conduzir adiante no conhecimento Dele mesmo e do Seu amado Filho, e nos conceder graça para nos conservar livres dos ídolos! [1 Jo 5:21].
Tradução do texto “Stability and Growth” C.A.Coates (livro The Paths of Life).