Um recado da graça é baseado no capítulo 9 de Deuteronômio do livro “An Outline of the Book of Deuteronomy” de C.A. Coates.
“Quando, pois, o Senhor, teu Deus, os tiver lançado de diante de ti [as nações inimigas da terra de Canaã], não digas no teu coração: Por causa da MINHA JUSTIÇA é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir, porque, pela maldade destas gerações, é que o Senhor as lança de diante de ti. Não é por causa da TUA JUSTIÇA, nem pela retitude do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela maldade destas nações o Senhor, teu Deus, as lança de diante de ti; e para confirmar a palavra que o Senhor, teu Deus, jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Sabe, pois, que não é por causa da TUA JUSTIÇA que o Senhor, teu Deus, te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo de dura cerviz” (Dt 9:4-6).
“Porque EU SEI que EM MIM, isto é, na minha carne, NÃO HABITA BEM ALGUM, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo” (Rm 7:18).
“Portanto, os que estão na carne NÃO PODEM agradar a Deus” (Rm 8:8).
“Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3:17).
O texto de Deuteronômio 9 traz à luz, de forma contundente, a verdadeira natureza do povo de Israel. Deus deixa bem claro que o cumprimento de Sua promessa estava de acordo com o Seu propósito, e de maneira nenhuma teve qualquer relação com o mérito por parte do povo de Israel.
Se “a terra” foi possuída, foi pelo poder de Deus (vs 3), porque Ele lidou com tudo que se opôs ao conhecimento Dele, e pelo cumprimento de Sua palavra dada aos patriarcas (vs 4,5). Entrada na terra é o fruto do poder Divino realizando o propósito Divino. Israel, de acordo com a carne, era completamente desqualificado para herdar as promessas de Deus. Mas é importante entender que isso é verdadeiro também em relação a nós. Deus deixa isso bem claro. Veja a instrução do capítulo 9.
Existe um contraste marcante entre os capítulos 8 e 9 de Deuteronômio. No capítulo 8, não lemos nenhuma palavra que mencionasse a maldade ou as falhas do povo no deserto; “todo o caminho” foi percorrido por meio do cuidado e liderança de Jeová. Mas no capítulo 9 vemos a descrição da teimosia, provocação e da rebelião do passado sendo trazidas à luz. Podemos ver na história do povo de Deus – NOSSA história – que não entramos na terra prometida pela nossa própria justiça ou pela retidão do nosso coração. Veja os versos 4 a 6. Nesses versos é trazido a luz que se isso acontece, é por meio da fidelidade de Deus aos seus próprios propósitos e promessas.
De acordo com nossa natureza, somos um povo de dura cerviz; e temos repetidamente “provocado a ira de Jeová”. Isso não acontece apenas com pessoas não convertidas:
“Lembrai-vos e não vos esqueçais de que muito provocaste à ira o Senhor, vosso Deus, no deserto; desde o dia em que saístes do Egito até que chegastes a este lugar, rebeldes fostes contra o Senhor” (Dt 9:7).
Isso acontece desde a nossa conversão. Cada fase da nossa história tem provado que somos carnais. É humilhante pensar nisso tudo. Entretanto, vemos no texto de Dt 9 que Deus deixa isso bem claro, quanto lida conosco. Minha carne, no presente momento, é a mesma carne que foi a fonte de fraqueza, obstinação e incredulidade que se manifestava em mim antes de conhecer o Senhor. Se eu pensar nisso, posso notar minha total incapacidade de confiar em mim mesmo, e ver que a dependência de Deus é a minha única segurança.
Em Horebe, eles provocaram Jeová à ira e a única coisa que os preservou da destruição foi a intercessão de Moisés. Talvez nenhum de nós tenha percebido o quanto devemos à obra intercessória de Cristo. Nenhum de nós teria prosseguido no caminho divino ou teria qualquer medida de fidelidade até o presente momento, se não fosse por esse abençoado serviço de amor fiel. Agradecemos a Ele por Sua obra completa de redenção na cruz, mas nunca vamos esquecer Sua obra ainda não concluída – Seu serviço incessante como Intercessor e Advogado! Isso é verdade pra cada crente, assim como foi com Pedro, quando Cristo orou para que a sua fé não desfalecesse [Lc 22:31-32]. Qualquer um que entra na terra prometida deve isso a fidelidade de Deus e a obra intercessória de Cristo. Acredito que temos história suficiente em nosso passado para nos convencer desse fato. Isso deixa todo o crédito e louvor a quem realmente é digno de recebê-los. Toda a glória pertence a Deus.
Assim como Israel rapidamente virou as costas para a aliança, vemos em Gálatas que nós rapidamente também saímos daquele que nos chamou na graça de Cristo para um evangelho diferente! (Gl 1:6). Horebe (vs 8-21), Taberá, Massá (Ex 17:7), Quibrote-Hataavá (vs 34) , Cades-Barneia (Nm 13)… todos esses lugares tem características correspondentes em nossa história. Rapidamente perdemos nosso primeiro amor e permitimos idolatria e ensinos malignos penetrarem sorrateiramente entre nós! Tudo isso aconteceu no passado da história da igreja, e está presente na sua condição atual. Isso demonstra quem nós somos. Não temos visto tantos casos de desvios e afastamentos, frutos do mundanismo e vontade própria, que tem exposto as nossas tendências naturais? Se os fracassos dos nossos irmãos não nos encheram com uma profunda percepção de quem nós somos, isso não tem nos afetado de forma correta.
Ainda, trazendo tudo isso para nós mesmos de forma mais pessoal: quanta falta de vigilância, espírito de oração, mornidão em relação a Cristo e Seus preciosos interesses, desejos por coisas do mundo, busca de nossos próprios interesses e não dos de Jesus Cristo, o surgimento do orgulho e diversas paixões em nossos corações? Todas essas coisas são claramente patentes a Deus, ainda que não tenham sido expostas aos nosso irmãos.
Devemos nos “lembrar” e “não esquecer” de quem somos em nós mesmos, da nossa real natureza. Quando nos esquecemos de quem a “nossa carne” é, tendemos para dois caminhos: a auto justificação ou a auto comiseração. Dois caminhos carnais baseados na nossa natureza, ora muito felizes por realizar, ora amargurados pelos constantes fracassos nessas tentativas. A nossa carne sempre tentará se preservar, ter o crédito, prevalecer, ter um nome para si… e quanto estivermos desapercebidos, ela nos levará a crer que fomos nós mesmos que conseguimos tudo aquilo que Deus, de forma graciosa, nos concedeu do início ao fim!
A história descrita no capítulo 9 de Deuteronômio é muito diferente da registrada no capítulo 8, verso 2. Entretanto, sem o menor contra senso, a mesma Voz nos chama para as duas coisas. Lembrar de quem Deus é, de quem Cristo é, e de quem nós somos é fundamental para nosso pleno e permanente desfrute da terra prometida.
“Prostrado estive perante o Senhor, como dantes, quarenta dias e quarenta noites, não comi pão e não bebi água, por causa de todo o vosso pecado que havíeis cometido, fazendo mal aos olhos do Senhor, para o povocar à ira” (Dt 9:18).
O Mediador da aliança se tornou o Advogado por aqueles que tão rapidamente se afastaram dele! Se não fosse pela intercessão de Cristo onde estaríamos nós?
É muito tocante ver que como a oração do nosso abençoado Intercessor é de acordo com a verdade dentro do propósito de Deus para o Seu povo. Diante do quadro de quem somos, podemos perder todo o sentido do que somos em Deus, mas Jesus não. Moisés fala deles como:
“Ó SENHOR Deus! Não destruas o teu povo e a tua herança, que resgataste com a tua grandeza…. lembra dos teus servos Abraão, Isaque e Jacó…. são eles o teu povo e a tua herança, que tiraste com a tua grande força e como o braço estendido” (Dt 9:26-29).
Quando o povo de Deus se comporta de forma errada, somos muito aptos a esquecer que eles são redimidos, mas Cristo nunca esquece. É impossível que aquilo que a carne é, mesmo no povo de Deus, possa invalidar a redenção divina que foi forjada, a eleição ou o chamado de Deus, as promessas dos tempos antigos, ou o fato que o povo de Deus é “o teu povo e a tua herança”.
Entretanto, o fato de que as coisas não podem ser invalidadas, e que elas formam a base da intercessão de Cristo em nosso favor, não exime de nós a necessidade de julgar o que é a manifestação da carne. Vemos no verso 21, que Moisés disse:
“Tomei o vosso pecado, o bezerro que tínheis feito, e o queimei, e o esmaguei, moendo-o bem, até que se desfez em pó; e o seu pó lancei no ribeiro que descia do monte” (Dt 9:21).
O povo teve que beber a água: a amargura de qualquer idolatria é trazia de volta para nós. Ainda assim, a intercessão de Cristo é oferecida, e é respondida pela disciplina de Deus de forma a nos corrigir.
“De todas as famílias da terra, somente a vós outros vos escolhi; portanto, eu vos punirei por todas as vossas iniquidades” (Amos 3:2).
“Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna” (Gl 6:7,8).
Recebemos um convite da graça. Tudo hoje é por meio de Cristo! Entretanto, podemos viver pela velha natureza, e podemos fazer pouco caso da graça de Deus. Deus lembrou seu povo da importância de valorizar a disciplina amorosa dEle, e de nunca se esquecerem de quem eles eram. Se hoje estamos aqui, se temos a palavra aberta para nós, se temos perseverado em nossa caminhada, tudo é pela GRAÇA, é por ELE EM NÓS. Cristo EM NÓS! Que não venhamos a tropeçar na mesma pedra de tropeço que Israel tropeçou:
“Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a alcançá-la, todavia, a que decorre da fé; e Israel, que buscava a lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por quê? Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço, como está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será confundido” (Rm 9:30-33).
“Bem! Pela sua incredulidade [povo de Israel], foram quebrados; tu, porém, mediante a fé, estás firme. Não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará. Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado. Eles também, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os enxertar de novo” (Rm 11:20-23).
É de fundamental importância essa advertência de nosso Pai, porque Ele sabe nossa estrutura e sabe como somos rápidos para nos esquecer de quem realmente somos em nossa carne. Essa triste verdade pode ser vista na última das sete igrejas descritas em Apocalipse 3. O que retrata melhor a condição descrita em Deuteronômio 9 do que o panorama da Igreja em Laodicéia, que estava totalmente enganada a respeito de si mesma? Tão enganada a ponto de se achar rica, plena e satisfeita, apesar de Cristo estar do lado de fora!
A vida Cristã é vivida POR Cristo! Que possamos perseverar em segui-Lo como Calebe e Josué, olhando para o Senhor, confiando que Ele é quem faz toda a obra, nos apegando a Ele (Nm 13:24; Dt 1:36).
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