Major W.Ian Thomas
“Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o Senhor houvesse tratado face a face” (Dt 34:10).
Moisés era um gigante espiritual. Não encontramos quem se lhe comparasse em sua pura integridade moral; não teve igual em seu senso altruísta de dever, em sua incansável preocupação com o povo a quem servia, em sua nobreza de caráter, em sua humilde dedicação ao Senhor. Chega a parecer-nos que se havia um homem que merecia entrar em Canaã, esse homem era Moises – e, no entanto, morreu no deserto!
“Tinha Moisés a idade de cento e vinte anos quando morreu; não se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu o vigor” (Dt 34:7).
Vemos, portanto, que não houve causa física para o falecimento desse profeta. Moisés morreu cedo demais, e também foi sepultado no lugar errado!
“Assim morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, segundo a palavra do Senhor. Este o sepultou num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor; e ninguém sabe, até hoje, o lugar da sua sepultura” (Dt 34:5,6).
Parece óbvio que a lição que Deus tenciona que apreendamos daqui é de tal importância e tão universal em sua aplicação que, propositalmente, escolheu um de Seus servos mais seletos, para que ninguém se julgasse isentado. Deus amava a Moisés e não posso deixar de pensar e estar convencido de que Moisés brilhará entre a aristocracia dos céus, na vasta multidão dos redimidos – a despeito de que, a própria severidade com que Deus o tratou nos mostra claramente a importância daquilo que Deus vincula ao princípio por ele violado.
Acrescente-se à sua nobreza de caráter o fato de que Moisés foi um grande líder, um grande pregador, um grande administrador, homem dotado de imensa estatura mental, além de quase qualquer outra coisa que você ou eu procurássemos enumerar, incorporando todas as mais altas e santas ambições – e ali estava um homem que não podemos deixar de admirar e respeitar. Não obstante, apesar de todas essas grandes vantagens, Moisés morreu como homem desapontado! Não entrou na Terra prometida! Estava enfadado de seu ministério, enfadado do povo a quem ministrava, e eles também estavam enfadados dele”.
Você deve estar lembrado de como, no princípio da jornada, o Senhor havia ordenado a Moisés que ferisse a rocha, em Horebe, para que jorrasse água para os filhos de Israel, quando se encontravam no ressequido deserto de Sin, do lado oriental do golfo de Suez. E então, cerca de trinta e oito anos mais tarde, os filhos de Israel chegaram ao deserto de Zim, a oeste da extremidade sul do Mar Morto, e ali também não havia água pra a congregação beber. Em trinta e oito anos, tudo quanto Moisés aparentemente conseguira realizar fora guiar o povo de uma localização geográfica para outra, dentro do deserto – do deserto de Sin para o deserto de Zim.
Não importa quão bem dotado seja um indivíduo, ou quão grande seja o seu entusiasmo; não importa sua qualidade como orador, nem importa quão dinâmica seja a sua personalidade; não importa qual seja a sua posição social; não importa quão popular ou famoso seja ele, o melhor que alguém pode conseguir, estando no deserto, em sua própria vida ou nas vidas de outros a quem tenha que ministrar, é passar do “Sin” para o “Zim”, ou seja, mudança exterior apenas, mas nenhuma mudança interior!
Alguns tem imaginado que a cura para a inaptidão espiritual consiste na mudança de localização geográfica, na chamada para um novo ministério, para a troca de campo de atividade; porém, se você estiver vivendo no deserto espiritual, então será tão inútil em uma parte do deserto como em outra!
“E o povo contendeu com Moisés e disseram: Oxalá tivéssemos perecido quando expiraram nossos irmãos perante o Senhor! Por que trouxestes a congregação do Senhor a este deserto, para morrermos aí, nós e os nossos animais? E por que nos fizestes subir do Egito, para nos trazer a este mau lugar, que não é de cereais, nem de figos, nem de vides, nem de romãs, nem de água para beber?” (Nm 30:3-5).
Apesar de terem ficado assentados aos pés de Moisés, ouvindo-lhe as pregações durante quarenta anos, tudo o que os israelitas puderam dizer com respeito ao lugar para onde ele os trouxera era que era um mau lugar – “…que não é de cereais, nem de figos…” – e tão seco e sedento como o lugar por onde tiveram o início de suas jornadas. Será essa a vida cristã normal? Será realmente isso tudo quanto dela se pode esperar?
Os filhos de Israel sabiam tudo acerca da terra de Canaã, em suas mentes, porquanto Moisés pregara tanto sobre o lugar, que já estavam cansados até de ouvir-lhe o nome – mas a única coisa que ele não fez, foi introduzi-los ali! É tarefa exaustiva pregar sobre Canaã enquanto ainda se está no deserto! A linguagem sai sem vida, e os sentimentos não tem substancia!
Continua amanhã…
Extraído do livro “Salvos pela Vida de Cristo” – Cap. 10 – Major W.Ian Thomas