Participante de Cristo
“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos” (Daniel 9:25).
O povo de Deus estava no cativeiro da Babilônia, onde permaneceu por 70 anos. Entretanto, Deus despertou o coração de alguns daqueles reis para liberar o Seu povo para reconstrução de Jerusalém, o que aconteceu em três movimentos específicos registrados na Bíblia: Em 536 a.C., para reconstrução do Templo sob a liderança de Zorobabel, a partir do decreto do rei Ciro; em 458 a.C., sob o comando de Esdras, quando o rei Artaxerxes autorizou fortalecer o serviço da Casa de Deus e; em 445 a.C., quando Artaxerxes autorizou Neemias a liderar a reconstrução dos muros e fortalecer a vida da cidade.
Todavia, esses chamamentos deveriam ter despertado o coração do povo de Deus, “mas apenas um remanescente, cujo espírito foi instigado por Deus, retornou. Todo o restante do povo permaneceu na Babilônia como se não tivesse ouvido nada… Eles prosperaram e fincaram raízes profundas na terra do cativeiro” (KAUNG, Stephen). A adoração a Deus havia sido “adaptada” pelo próprio povo à sua realidade naquele cativeiro. Ao invés de adorar em Jerusalém, no seu templo, como Deus havia determinado, naquelas condições, por que não “melhorar” o que Deus falou? Assim, criaram as Sinagogas, que poderiam ser estabelecidas em quantidade desejada pelo homem e em qualquer lugar. Tudo estava ajustado e estabelecido para eles, não havendo motivos aparentes para deixar a Babilônia e voltar para uma terra desolada – Jerusalém. Assim, a maioria dos Judeus não teve interesse em retornar, somente aquele remanescente obedeceu ao chamado do Senhor e largou tudo para seguir o que Deus estava dirigindo, pois em seus corações ardia o desejo e a esperança de ver a Palavra do Senhor se cumprindo. Eles queriam restaurar o testemunho do Senhor.
Se não fosse por eles, não teríamos Jerusalém, Belém, Cafarnaum e todos os outros lugares por onde o Messias no futuro deveria passar. Mas esse retorno, apesar de ser totalmente dentro da vontade de Deus, não foi nada fácil. Muito pelo contrário! Eles enfrentaram muita oposição de todos os lados, mas o Senhor já tinha os deixado avisados. Tudo foi registrado previamente no livro de Daniel. Aquela era uma preparação para a primeira vinda do Senhor Jesus.
Hoje vivemos o tempo que antecede a segunda vinda de Cristo. Temos diversos registros no Novo Testamento, alguns proferidos da boca do próprio Senhor Jesus, que indicam que esse período também será acompanhado de dores de parto, angústia e dificuldades, principalmente para aqueles que amam o testemunho do Senhor. Como poderemos edificar nesses tempos angustiosos? Num tempo como este, parece que a única coisa impossível de se fazer é edificar alguma coisa, porque só presenciamos destruição em tempos de luta.
Olhando para o passado, na própria história da Igreja, nos deparamos com diversos testemunhos vivos do que estamos dizendo. Mesmo que em escalas menores, vimos como a Igreja sempre prosperou em tempos em que o mundo presenciava momentos de perplexidade. Até mesmo quando a Igreja “tradicional” ruía, o verdadeiro testemunho do Senhor nunca se perdeu.
Ao ler algumas cartas do Editor da revista “Uma Testemunha e Um Testemunho” que foram enviadas no período da Segunda Guerra Mundial, fomos muito tocados pelo Espírito Santo. A Segunda Guerra envolveu o mundo todo, matou aproximadamente sessenta milhões de pessoas e muitos acreditavam que aquele pudesse ser até mesmo o fim desta dispensação. Mas a experiência que nossos irmãos viveram no Senhor é de grande ajuda para nós, porque eles perseveraram, permaneceram e puderam VER o Senhor em todas as circunstâncias. Por isso, selecionamos uma carta de cada ano do período da guerra e uma adicional que foi escrita logo depois do seu término, a qual traz um resumo do entendimento que o irmão T. Austin-Sparks teve depois do acontecido.
O nosso anseio é que essa coletânea possa edificar, exortar e consolar os nossos irmãos que podem estar passando por momentos difíceis, ou que podem estar perplexos e desanimados com o curso das coisas no momento em que vivemos. Deus faz as coisas primeiramente em nós individualmente, nos tornando um testemunho vivo, então trabalha em todo o Seu corpo, coletivamente. Que possamos ser um testemunho vivo de que O CÉU DOMINA, e que não desanimemos nesses tempos angustiosos, pensando que o testemunho do Senhor se perderá.
Especificamente no que tange à revista “Uma Testemunha e um Testemunho”, apesar de todas as oposições, ela nunca deixou de ser enviada aos seus assinantes até a morte do irmão T. Austin-Sparks, mesmo durante todo o período de guerra. Mas a morte desse querido irmão não apagou aquele testemunho, pois diversos irmãos decidiram manter vivas as palavras do Senhor transmitidas por aquele ministério. Hoje, na Holanda, em Oklahoma e na Nova Zelândia, irmãos mantém a publicação do conteúdo desse material na língua original (inglês), seja em livros ou por meio de um website. Além disso, diversos irmãos, de várias partes do mundo, têm se disponibilizado para traduzir tal conteúdo em seu idioma natal. Nenhuma daquelas palavras “do Senhor” se perdeu. Mais interessante ainda é que cada envolvido faz seu trabalho anonimamente, sem ganhar nem um centavo para isso, sendo impossível dar crédito a tantas pessoas que colaboraram nesse ministério. Isso é uma prova viva de que a Palavra do Senhor nunca será algemada, e que Ele reina em “todas as circunstâncias”. Elias é tomado, mas Eliseu é deixado. O testemunho continua enquanto o Senhor assim desejar.
“Essa é a única coisa que permanecerá quando tudo mais passar. É isso que contribuirá para a permanência do nosso ministério depois que tivermos partido. Embora o nosso trabalho pelos outros possa se apoiar em muitos outros materiais e recursos, o nosso verdadeiro serviço para eles se baseia no nosso conhecimento do Senhor… Conhecer realmente o Senhor significa firmeza quando os outros estão sendo levados, em tempos de ardente provação. Aqueles que conhecem o Senhor não fazem a obra pelas suas próprias forças. Eles são cheios de amor e paciência, e não perdem o equilíbrio quando tudo parece estar desmoronando. A confiança é um fruto essencial e inevitável desse conhecimento. Há uma força tranquila e repousante naqueles que O conhecem, que revela uma grande profundidade de vida” (T. Austin-Sparks – On Knowing the Lord – 1930).