T. Austin-Sparks
“Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (João 4:34).
Leitura: João 4:31-34; 6:1-14, 60-71.
Todas estas três porções das Escrituras têm a ver com a questão alimentar, que tem grande ênfase nessas porções da Palavra do Senhor, e sinto que o Senhor tem algo a dizer sobre o alimento espiritual neste momento.
O Desejo do Senhor é a Plenitude
Podemos chegar a algumas deduções e conclusões simples a partir desta parte do capítulo 6 de João, como o fato claro de que o Senhor Jesus tem o desejo em seu coração que todos os que vêm a Ele devam ser plenamente satisfeitos; Ele se moveu com compaixão. É uma questão do coração do Senhor Jesus que todos os que vêm a Ele devam estar plenamente satisfeitos, que sejam preenchidos por completo. Quando você pára e pensa sobre isso, este é um pensamento Divino expresso em todo o conjunto das Escrituras. Deus deseja que plenitude seja uma marca da vida relacionada com Ele, e a intenção principal de Deus é que toda a Sua plenitude seja derramada no vaso da Igreja, o Corpo de Cristo. Essa é uma simples dedução a ser feita a partir desta porção das Escrituras, e devemos ter diante de nós tanto este fato declarado, como esse teste para a nossa relação com o Senhor. Ele imediatamente nos interroga, será que encontramos no Senhor Jesus plenitude absoluta, satisfação completa, ou ainda estamos sem essa finalidade que está nEle? Estamos desfrutando e nos alegrando em plenitude em Cristo? Com esse testemunho de Seu desejo, esse teste diante de nós, somos levados através destas passagens para ver o caminho da plenitude, e então o seu objeto, de modo que estas três coisas, muito simples, estão aqui.
Em primeiro lugar, o desejo do Senhor é que estes que estão relacionados a Ele sejam preenchidos por completo e tenham algo de sobra. Então temos o caminho da plenitude, e depois o objeto da plenitude.
Acho que poderemos descartar o número um de uma vez. Muitos de nós estão imediatamente prontos para dizer que sabemos que o desejo do Senhor é a nossa plenitude porque Ele se tornou o nosso “tudo em todos”. Isso não significa que não temos mais vontades, mas isso significa que nós encontramos uma esfera onde toda a nossa satisfação é reunida, e ela é o próprio Senhor Jesus, e não temos desejo nem inclinação de ir para fora dEle por nada, Ele é tudo. Estamos diariamente descobrindo quão pleno Ele é.
Cada vez mais estamos descobrindo que “Nele habita toda a plenitude“, e que isso é muito mais do que já experimentei ou espero experimentar nesta terra. A partir daí estamos completamente arruinados para qualquer outra esfera ou fonte de vida. Alguns de nós podem verdadeiramente dizer isto. Espero que você possa, mas se há alguém que não é capaz de dizer isto no momento, deixe-me declara-lo novamente como uma afirmação forte, como para a vontade revelada de Deus: Ele deseja que todos aqueles que estão relacionados a Ele sejam plenamente satisfeitos.
O Caminho da Plenitude
Agora, então, podemos continuar com o caminho da plenitude. O caminho da plenitude do Senhor – e isso pode soar como quase ridículo – é a alimentação, mas coloco isso assim, porque algumas pessoas parecem pensar que obterão a plenitude por meio de uma espécie de efervescência, de um maravilhoso, misterioso e consciente borbulhar e transbordar sem nenhuma razão, e desejam ter uma série de sensações de plenitude e satisfação, e assim por diante. Esse não é o caminho do Senhor. A plenitude do Senhor não é o ar, não é efervescência, é a alimentação. O Senhor não faz isso de uma maneira milagrosa, suspendendo todo exercício espiritual e atividade de nossa parte. O Senhor faz provisão e nos chama à apropriação, e ela é de um caráter muito prático. Você nunca vai estar cheio da plenitude do Senhor se não colocar em prática o alimentar do Senhor, se alimentando e assimilando a provisão do Senhor.
Não pode haver uma declaração mais fundamental do esta, no entanto, tem que ser feita para que não estejamos vivendo em um reino falso. Então temos o milagre dos pães e dos peixes, a provisão feita para evidenciar o objetivo da plenitude pelo Senhor, e a Palavra afirmou que eles foram levados a comer, “e eles comeram“. Voltando para João 4, temos a própria explicação do Senhor do que significa comer para Ele. Quando os discípulos vieram com o pão que tinham ido à cidade para comprar, porque estavam com fome, e suplicaram-lhe, dizendo: “Mestre, come“, ele renunciou o seu pão e disse: “Uma comida tenho para comer que vós não conheceis“. Eles disseram: “Acaso alguém deu-lhe de comer?” e, em seguida, explicou: “A minha comida e minha bebida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra“.
Assim, alimentar-se até a plenitude e satisfação, de acordo com a própria definição e explicação do Senhor é a obediência à vontade de Deus. Você quer crescer, florescer, ser satisfeito e feliz porque está satisfeito? A maneira, amados, é a obediência instantânea e rápida para cada intimação da vontade Divina. Você quer ser magro, quase morto de fome e miserável, balbuciante, nunca contente espiritualmente? Apenas suspenda a sua obediência por um pouco à vontade conhecida dEle, e isso produzirá esse resultado muito rapidamente. “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou“. O Senhor Jesus encontrou maravilhosa satisfação ao longo dessa linha da obediência e maravilhosa paz e alegria. Você sabe, amado, não há nada tão estimulante e fortalecedor do que saber que você está na vontade de Deus. Você pergunta a qualquer um que sabe alguma coisa sobre isso, e se você sabe que está na vontade de Deus e que está com o Senhor, dentro da Sua vontade, está maravilhosamente forte, saudável, descansado, vitorioso, um homem ou mulher por cima. Não importa qual possa ser o custo, existe uma força maravilhosa em estar nessa posição.
O Exemplo do Jovem Davi
Pergunte a Davi sobre isso. Este jovem foi enviado por seu pai do campo com pão para os seus irmãos no exército, e para inquirir sobre o seu bem-estar. Assim que ele chega ao exército, aparece aquele monstro dos exércitos dos filisteus, que dia após dia vinha desafiando as hostes de Israel “Encontrem um homem para vir e lutar comigo”, e Israel não poderia encontrar nenhum, eles não conseguiam encontrar um homem! As coisas estavam indo por um mau caminho, muito ruim. Davi ouve o desafio, um jovem, um adolescente, seus irmãos não compreenderam seus motivos, ninguém lhe dando muito apoio, reconhecimento ou dando-lhe muito crédito: desprezado, mas conhecendo o Senhor.
Quando ele foi levado ao Rei Saul e se ofereceu para ir ao encontro do filisteu, Saul olhou para ele e disse: “quem és filho?” “De onde é que você veio?” Davi dá seu testemunho. Um dia, enquanto ele estava cuidando daquelas poucas ovelhas, um leão atacou e ele tomou o leão e rasgou-o como ele teria rasgado uma criança. Outro dia um urso atacou seu rebanho e ele tomou o urso e rasgou-o em pedaços. Ouça: “O Senhor, que me livrou da boca do leão e das garras do urso me livrará das mãos deste filisteu, este incircunciso filisteu.” Esse foi o testemunho do seu conhecimento do Senhor. E que posição de ascendência aquela comunhão secreta com Deus o colocou, ascendência moral em um dia em que tudo o que representava o Senhor estava em uma condição tão pobre … não podiam encontrar um homem. Mas Deus tinha um segredo em um homem desprezado entre os demais, que O conheceu pela experiência, aquele que provou Deus.
Davi é uma expressão maravilhosa, a representação de uma pessoa que conhece o Senhor e confia nEle, e em nada mais. O que gosto em Davi é que ele refere tudo ao Senhor. Quando Saul, com seus piedosos chavões religiosos disse a Davi: “Vai, e o Senhor seja contigo“, ele também disse: “Agora pegue esta armadura.” Piamente ele desejou o bem quando disse: “O Senhor seja contigo” – mas isto não é suficiente – “você deve ter uma armadura também!” Confie no Senhor – mas! Davi vestiu a armadura, mas era desconfortável. “Não posso ir com isso, não provei isso, provei o Senhor, conheço o Senhor, você pode ter sua armadura, mas eu estou preparado para confiar nEle.” Agora, para o gigante: “Eu vim com uma funda e cinco pedras” – e: “venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, cujos exércitos você desafiou.” Quem é o gigante neste campo? Davi é o gigante! Naquele dia algo entrou na cabeça de Golias, que nunca tinha estado lá antes. O ponto é este, amados, que a força, robustez, plenitude, confiança, segurança, tudo decorre de estarmos em total unidade com Deus, com base em toda a Sua vontade.
Você será repreendido, porque como Davi, em um dia em que as coisas estão religiosamente em um estado de decadência, o homem de fé que se atreve a sair e confiar em Deus é sempre deturpado, caluniado, e seus motivos são sempre torcidos. “Bem conheço”, disse o irmão mais velho de Davi, “a maldade do teu coração, você veio para ver a peleja.” Sim, o homem que confia no Senhor em um dia em que as coisas estão em uma condição de pobreza espiritual terá seus motivos torcidos, distorcidos, deturpados, mas se ele está com Deus, tem certeza e confiança, estará em ascendência, ainda que possa ser mal interpretado, aviltado e desvalorizado, ele estará de pé diante de Deus, pela Sua vontade. Esse é o segredo da satisfação, força, plenitude, robustez!
O Segredo do Senhor Jesus
O Senhor Jesus estava sempre em ascendência espiritual e moral naqueles dias de declínio espiritual. Bem, o segredo era que Ele estava com Deus e Deus estava com Ele, eles estavam juntos, e nunca houve um momento de hesitação em sua vida no que diz respeito a fazer a vontade de Deus. Então a vontade de Deus cobriu todas as etapas, cada passo da Sua vida. Tudo começa no primeiro ponto onde tomamos o nosso lugar como pecadores diante de Deus, reconhecendo que somos impotentes na questão da nossa salvação, e desesperadamente necessitados de salvação e um Salvador, e pela fé, tomamos o Senhor Jesus como esse Salvador, para nossa salvação. Essa é a primeira coisa na vontade de Deus, e é o primeiro passo para a satisfação e plenitude, e quando você tomá-lo – todo mundo que tomou esse caminho pode testemunhar o fato – há um maravilhoso senso de satisfação, plenitude, após esse passo, a alegria começa.
Desse ponto em diante, portanto, todo o curso de nossa vida e experiência, o nosso crescimento, aumento, plenitude, está ligado a passos de obediência à vontade de Deus. Nós conhecemos muitos que naufragaram na fé, para destruir a sua própria vida espiritual, vindo a parar em algum ponto da vontade conhecida de Deus, algo que o Ele lhes disse para fazer, algo sobre o qual o Senhor colocou o dedo como sendo Sua vontade, algo que Ele tem mostrou a eles como uma parte de “toda a justiça” a ser cumprida. Foram alguns passos de obediência e de alguma forma, em algum sentido, eles pararam. Talvez eles tenham discutido o assunto com os outros, talvez eles tenham tomado o conselho dos homens, talvez eles tenham tentado encontrar uma porta dos fundos para sair da situação. Mas não, Deus não se move, e em colocando reservas na obediência, a sua vida espiritual ficou presa naquele momento, onde se iniciou um curso de declínio. Temos visto muitos que ficaram espiritualmente aos pedaços apenas por alguma questão de obediência absoluta a vontade conhecida de Deus. O Senhor Jesus disse: “A minha carne (aquela pelo qual vivo, sobre a qual sou mantido e sustentado, que é o segredo da minha força) não é o pão que perece, mas o fazer a vontade de meu Pai, daquele que me enviou e terminar a Sua obra.”
No entanto, não sei por que sou levado a falar assim. Nós raramente sabemos por que somos levados a falar como falamos, mas isso tem uma ênfase forte no meu coração, dizer isso, e o Senhor pode estar tocando uma vida que conhece a Sua vontade em um determinado assunto, e ao conhece-la não houve a consequente obediência, daí em diante, tudo foi suspenso, desculpas foram dadas. Você sabe, eu não, e o Senhor sabe exatamente o significado dessas palavras agora.
Como Seguir em Frente
A maneira de ir em frente em plenitude, crescendo Nele em todas as coisas, a forma de um testemunho de satisfação absoluta em Cristo, o caminho para uma posição forte em Deus, a maneira de ser útil ao Senhor, é apenas através da obediência pronta e irrestrita a tudo o que tem sido conhecido como a Sua vontade.
As pessoas de espírito aberto e coração honesto, que estão prontas e que, sem qualquer hesitação, reconhecem a vontade de Deus, a colocam em prática, são as pessoas que vão em frente espiritualmente a largas passadas. Esta não é uma questão do passar dos anos ou de tempo. O crescimento espiritual nunca foi uma questão de tempo. Um jovem pode estar léguas à frente de um velho espiritual, sobre esta base simples de fazer a vontade de Deus. Samuel estava muito à frente de Eli espiritualmente, simplesmente porque seu coração estava aberto para o Senhor e era obediente, enquanto Eli não era. Esse é o caminho da plenitude, o caminho da satisfação, em resumo.
O Objeto da Plenitude
Então, o objeto da plenitude é claramente o de satisfazer a outros: o ministério. Você pode tomar algumas das características, se quiser, um pequeno estudo bíblico por um minuto ou dois. Você tem que começar com cinco mil. Milhares, na Bíblia sempre representam figurativamente multidões. Suponho que isso se encontra à primeira vista – multidões, um grande grupo de pessoas. Aqui você tem cinco mil – e cinco na Bíblia é o número da graça – e o que é figurativamente representado aqui é uma multidão cuja vida vem pela graça. Para que não morram no deserto, eles serão salvos e satisfeitos pela graça. O Senhor não tinha nenhuma obrigação legal de atender suas necessidades. Eles vieram, estavam em necessidade, poderiam morrer, desmaiar: o Senhor é movido de compaixão.
A graça é o meio pelo qual eles são salvos e satisfeitos. Uma multidão, portanto, cuja vida é pela graça é o que está diante de nós, e Cristo é a sua vida. Cinco pães; os pães, é claro, falam de Cristo, o Pão. Isso é confirmado no capítulo 6, como você pode ver mais adiante. Cristo, o Pão da vida, e cinco pães, a graça vem de novo. Cristo é a vida para nós, pela graça de Deus. É a graça de Deus que deu o Senhor Jesus a nós. Maravilhosa graça de Deus, que tem se evidenciado dando do céu o Seu Filho para ser a nossa própria vida, isto é claro e muito simples.
Dois peixes. Peixes como nós sabemos até agora nas Escrituras são símbolos do que é universal. O mar é um tipo de universalidade, a profundidade do mar, a largura, a imensidão, se você quer uma palavra que fala de universalidade, bem, o mar abrange muito. Oh! a plenitude e a extensão do mar. Saia no meio do Atlântico e terá uma boa sensação do que a universalidade é, e se você apenas soubesse o que existe no mar, teria uma sensação mais profunda ainda! Peixes falam da universalidade. Dois é o número bíblico de testemunho ou testemunha. O que está aqui? O testemunho da plenitude universal de Jesus Cristo dado aos homens. Esta é apenas uma figura dirigida para as epístolas, adiante em Colossenses 1, temos a plenitude universal de Cristo, para que Ele preencha tudo e que toda a plenitude esteja nEle. Duas formas da plenitude de Cristo são reveladas nas epístolas: (i) uma é que na intenção de Deus, Ele preencherá todas as coisas, e (ii) na mesma intenção de Deus todas as coisas devem ser reunidas nEle. É a extensão do oceano e a inclusão do oceano em peixes, e os depoimentos de dois para a plenitude universal, todo-abrangente e expansiva do Senhor Jesus. Você está no caminho para ver o que é a satisfação quando você conhece o Senhor Jesus. Essa é o seu fundamento.
Doze discípulos. Doze é o número da responsabilidade administrativa. Você pode estudar todos os dozes de sua Bíblia com isso em mente e ver que é assim. Os discípulos representam para o Senhor um instrumento de administração e responsabilidade em relação à necessidade lá fora, e o desejo dEle. Agora você está começando a ver o objeto da plenitude: o ministério. Esse ministério tem dois lados, (i) a realização do desejo do Seu coração, e (ii) a satisfação da necessidade do homem por Ele.
Doze cestos entram em cena no final. É interessante e importante notar que a palavra grega usada é o diminutivo que significa “cesta de mão”. Não é uma cesta de roupas grandes, é a cesta de mão, o que significa que, no instrumento corporativo – dos doze – cada um tem uma responsabilidade pessoal. Não são três ou quatro homens carregando uma cesta grande, mas cada homem carregando sua própria cesta. Nós, muitas vezes, colocamos uma boa dose de nossa própria responsabilidade no instrumento corporativo, e pulamos fora de alguma coisa.
Não, a ideia do Senhor no instrumento corporativo é que todos têm uma responsabilidade individual. Devemos ter cuidado com a aplicação do corporativo que nos alivia da nossa parte da responsabilidade, colocando algo sobre a Igreja, quando o Senhor o colocou sobre nós.
Doze cestos, cestos de mão. E há um rapaz aqui, e ele apresenta uma outra lei. Ele está sem nome. Ele não é uma pessoa conhecida. Ele não está aqui na base do que ele é em si mesmo, ou de sua capacidade, sua realização. Ele não está aqui em nenhuma outra base além daquilo que ele tem.
A Base do Ministério
Agora receba isto direito no coração. Ministério, amados, para a realização do desejo do Senhor, indo de encontro a necessidade da qual Ele está consciente, nunca é sobre a base de nomeação oficial, nem popularidade, nem brilho, capacidade, reputação; ministério é sobre a base de termos alguma coisa. Muitas pessoas são maravilhosamente brilhantes, sem serem capazes de te dar uma migalha de alimento espiritual. Este rapaz apenas está na cena porque ele tem alguma coisa, e essa é uma lei do ministério espiritual. O Senhor requer isso. Você vê os elementos típicos desta história e os colocando juntos, chega a algo notável. O evangelho de João é em sua extensão uma descrição daquilo que o Senhor Jesus é (a redação não é a mesma nos outros Evangelhos, porque outra coisa está em vista, portanto, este ponto não está lá). Vemos o Senhor é mantido por excelência, como o centro de tudo no Evangelho de João, o tempo todo é a Pessoa do Senhor Jesus.
Algo significativo nessa narrativa do evento é que eles não são chamados ‘os doze’ até eles descobrirem o que a comida é, e terem se alimentado dela. Você observa, e verá que no final desta história eles são chamados os doze pela primeira vez. “Ele chamou para si os Seus discípulos“, mas não os doze. No final, entretanto, ele menciona “os doze”.
Apesar de serem doze discípulos no início, quando eles aprenderam a lição que o Senhor estava tentando ensinar, e eles próprios comeram o pão, reconhecendo o que e ele representava, logo a seguir eles foram chamados ‘os doze’. Isto indica que eles foram reconhecidos como instrumento administrativo do Senhor quando eles mesmos tinham terreno experimental como base para ministrar; quando eles mesmos tinham entrado na responsabilidade administrativa em razão de terem descoberto os segredos espirituais do Senhor Jesus, e em tipo, tinham se alimentado dEle. Isso não é sutil, vai bem direto ao ponto. Você vê que João 6 abre com a história da alimentação dos cinco mil, mas quase que imediatamente passa para o “Eu sou o pão da vida”, e isto estava em torno da festa da Páscoa, de modo que o que o Senhor Jesus tinha em mente era que tudo isso era Ele mesmo, o Pão da Vida.
O Que é Ministério
Ele vai dar uma grande lição experimental do que significa ter Cristo como sua vida em um deserto, em um lugar onde não há pão, em um dia de fome. Então Ele disse a Filipe “Onde vamos comprar pão? Mas dizia isto para o provar, pois Ele bem sabia o que ia fazer.”
Por que Ele disse isso a Filipe? Por duas razões: Filipe era um dos dois homens que representavam um ministério de uma forma especial. Filipe e André estão sempre fazendo as coisas. Sempre, por assim dizer, homens ativos em matéria de serviço, e, então, de uma maneira especial representam o serviço. Essa é uma razão.
A verdade do ministério está em vista, e como já dissemos, o ministério é a transmissão de Cristo do nosso próprio conhecimento, nossos corações, nossas próprias vidas.
Ministério não e transmitir a verdade, pregar algo da Bíblia; ministério é a transmissão do Senhor Jesus no Espírito Santo.
Outra razão pela qual Ele disse isso para Filipe foi porque Ele sabia Filipe não estava vendo quem Ele era. Depois, mais tarde neste mesmo Evangelho, Filipe lhe disse: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta.” Jesus disse-lhe: “Estou há tanto tempo convosco e ainda não tens me conhecido, Filipe?” O que isso quer dizer na prática? “Felipe, você tem tido seus olhos em mim durante todos esses meses, nos últimos três anos ou mais, e os seus olhos estiveram em mim, mas você não me vê. Você tem visto o que tenho feito, tem ouvido o que tenho dito, tem estado ao Meu redor todo o tempo, mas ainda não Me viu, Filipe?“. E assim Ele se volta para Filipe, a fim de acrescentar mais uma coisa para na educação, e na educação desses discípulos.
Então, tudo está ligado com a descoberta de “Quem” e “Do Que” o “Senhor Jesus é”. Essa é a educação para o ministério; o melhor tipo de formação; descobrir tudo o que o Senhor Jesus é para o coração e para a vida; e você só pode ministrar na medida que você O conhece, e nada mais. Ministério está em vista, mas tem que ser sobre a base da nossa apreensão experimental, pessoal e interior do Senhor Jesus. Assim, eles não são chamados ‘os doze’ – que é o vaso administrativo responsável – até que de uma forma prática eles tenham vindo a conhecer quem Ele é, e você pode imaginar que seus olhos estavam sendo bem abertos na medida que eles viram cinco pequenos pães e dois pequenos peixes crescendo, crescendo, e você pode imaginar, no final, quando deram a volta com suas cestas – só havia uma conclusão: esse não é um homem comum, este é o Filho de Deus. Assim, eles foram levados a conhecê-Lo, para serem constituídos instrumentos de Deus responsáveis em um dia de fome espiritual.
A Necessidade de Nossos Dias
Nós não temos muito mais para onde ir. A questão do alimento é muito aguda hoje. Não importa onde você vá no mundo hoje, encontrará pessoas falando de um estado abundante de inanição espiritual. Há muita fome e muita necessidade, e sabemos muito bem quão real essa fome é. As pessoas se deslocam quilômetros só para conseguir um pouco de comida espiritual de verdade. Nós poderíamos contar muitas histórias maravilhosas sobre esse assunto. Pessoas que caminham 20 quilômetros para chegar a uma reunião onde há alimento espiritual. Talvez você não seja tão agudamente vivo para isso, se está constantemente recebendo boa comida, mas se sair vai descobrir que é assim. Existe a necessidade, há este estado, existe a fome.
Por outro lado, há a paixão do Senhor e Seu desejo de que esse estado não continue. Mas, então, o Senhor vai encarar isso de uma forma soberana independente, porque Ele se comprometeu em operar através de um instrumento administrativo, a Sua Igreja. Mas, para que tudo seja algo mais do que uma coisa meramente financeira, eclesiástica, formal, a fim de que haja vida em seu ministério, isto deve acontecer experimentalmente onde verdadeira e profundamente se conhece, se apreende e se aprecia Cristo, e por meio de quem encontrou sua própria vida nEle, e Ele como sendo sua vida, sem O qual não há vida. Essa é a base do ministério. Assim o Senhor iria tornar tudo muito prático nesse sentido e muito experimental, e nos levar a essas experiências que nos levam à terra das nossas profundezas.
“Filipe, onde vamos comprar pão suficiente para alimentar esta multidão?” Ele lançou Filipe fora de sua profundidade. Ele sabia o que ia fazer. Ele estava provando Filipe. “Duzentos denários de pão….” Imediatamente Filipe começa a falar dentro do compasso do que é natural, mas o Senhor está tentando tirá-lo desse nível por completo para um lugar de apropriação pela fé do que Cristo é.
Amado, é exatamente isso o que o Senhor está tentando fazer com a gente o tempo todo, nos trazendo para fora de nossa profundidade, nos trazendo proposições que estão absolutamente além de nós, e quebra os nossos corações em situações nas quais estamos tão conscientes de nossa insuficiência absoluta.
Acredito, amados, que uma das leis de Deus de aumento: aumento na utilidade, serviço, ministério, é levar-nos de maneira recorrente, uma e outra vez, a uma nova posição onde nossos corações quase se rompem pela consciência da necessidade, da situação como ela é, e nos desesperamos novamente por nunca sermos capazes de fazer qualquer coisa que atenda adequadamente a essa necessidade. Parece que chegamos a um novo fim de nossas possibilidades e de nossos recursos. O Senhor nos leva até lá e, em seguida, àquele desgosto, àquele peso torna-se uma necessidade de Deus para nos ampliar com Ele mesmo.
Mas oh! antes de terminar, gostaria relembrar isso. Que um instrumento administrativo para assumir a responsabilidade por essa necessidade, e pelo desejo do Senhor, deve ter sobre si um fardo que é demasiado grande para si mesmo, para que possa descobri o próprio Senhor, e o quão grande Ele é!
E a pergunta que deve vir a nós, como povo de Deus é esta: “Estão os nossos corações oprimidos e rompidos com a necessidade como nós a conhecemos, como a vemos, e nossa própria insuficiência absoluta para atendê-la?”
Se assim for, essa é a maneira do Senhor de nos levar a um conhecimento dEle mesmo que vai de encontro exato a esta necessidade. Nós temos que ser batizados na paixão de Seu coração, e a única maneira é por ver uma necessidade, que vem direto a nós, e ao mesmo tempo com uma consciência que não podemos fazer nada em nós mesmos para atendê-la. O Senhor tem que fazê-lo, então nos voltaremos para o Senhor para atender a essa necessidade. Essa é a lei do ministério espiritual e eficaz.
Jamais oraremos corretamente pelo o povo do Senhor até que sua necessidade se torne uma dor aguda em nossos próprios corações. Tem que ser assim.
O Senhor, então, em primeiro lugar, nos dá um coração obediente a toda a vontade conhecida de Deus, para que possamos crescer e ficar satisfeitos, que todos os membros de Cristo possam ter aumento de Deus através de nós. O motivo para a obediência é a satisfação de Seu coração pelo encontro da Sua própria necessidade.
Publicado pela primeira vez na revista “A Testemunha e um testemunho ” em julho-agosto de 1933, vol. 10-4 sob o título “The Food Question – 1933).