A.B. Simpson (1843 – 1919)
“Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1 Coríntios 10:11,12).
A trajetória de Jeroboão indica passo a passo a raiz de sua apostasia. Para que possamos tirar proveito dessas preciosas lições, vamos analisar os passos para a decadência de Jeroboão.
A primeira coisa que Jeroboão fez quando assumiu o poder foi edificar (ou fortificar) Siquém, na região montanhosa de Efraim. O início de sua apostasia foi depender de seu próprio braço. A incredulidade é a raiz secreta dos outros pecados (Hb 3:12). O único caminho para a santificação é cessar seus esforços e deixar que o Senhor batalhe por você. O único caminho para o triunfo é a confiança – enquanto você está se esforçando, batalhando, se desgastando, tentando mil coisas, não tem fé.
Seu segundo passo foi construir duas novas capitais religiosas. A unidade era a base de toda a adoração ao Deus vivo. Todos deviam adorar o Senhor em Jerusalém. Como Jeroboão tinha uma preocupação de perder seus súditos quando eles fossem à Jerusalém adorar, resolveu estabelecer seu próprio sistema religioso. Isso levou com que o verdadeiro sacerdócio fosse lançado fora dos limites de Israel (2 Cr 13:8-10), para a terra de Judá. O verdadeiro sacerdócio estabelecido por Deus não pode ministrar em um sistema estabelecido por homens. Jeroboão adotou todos os rituais e cerimônias que integravam a adoração ao Senhor.
Ele ordenou sacerdotes dentre o povo que não eram da tribo de Levi e estabeleceu festas para dar ao povo oportunidade de regozijo. Ele fez uma imitação da adoração verdadeira ao Senhor e chamou a bezerros de Senhor.
Isso tudo evidencia que Jeroboão não temia ao Deus vivo que o estabeleceu no trono, mas se apegou ao seu poder posicional, usando meios humanos para não perder a posição de governo sobre o povo de Israel. Entretanto, não se engane, a religião criada pelo homem termina como uma religião demoníaca – porque não demorou muito para que o altar de Jeroboão se tornasse o altar de Baal (1 Rs 16:32). Jeroboão tentou colocar Deus subserviente à sua ambição. Não podemos pensar que isso não se aplica a nós, porque existem mil maneiras de fazer a obra religiosa como um meio de satisfazer seus interesses pessoais.
A Misericórdia de Deus e a Dureza de Coração de Jeroboão
O nosso Deus ama a misericórdia (Mq 7:18), e dentro dessa natureza, Ele deu diversas oportunidades a Jeroboão para se arrepender de seus caminhos. Veremos algumas delas:
1) Na consagração do altar de Betel, um profeta do Senhor surge para trazer uma grande palavra de advertência! A palavra “homem de Deus” é referida 15 vezes. Apenas um homem de Deus pode agir em um momento como esse de extrema apostasia. “Altar, altar!” e então ele profetiza sobre Josias, que bem à frente profanaria aquele altar queimando os ossos de seus sacerdotes ali (2 Rs 23:15,16), o que aconteceu cerca de 300 a 400 anos depois. Além dessa solene advertência, foi dado a ele um sinal visível da profecia, quando aquele altar se fendeu, e suas cinzas se derramaram. Isso indicava que o poder daquilo que é idólatra é quebrado pelo testemunho profético. O rei tenta prender o profeta, mas ao invés disso precisa de sua intercessão, porque sua mão fica paralisada. Esse profeta, mais à frente, foi usado como um claro exemplo da seriedade de não cumprir a palavra de Deus – de Deus não se zomba (1 Rs 13:11-32) . Se imaginarmos o peso dessa advertência no exato momento que ele estava consumando um dos pecados que mais irrita ao Senhor, que é a idolatria, podemos pensar que Jeroboão ficou apavorado e se arrependeu, mas isso não aconteceu. Ele continuou praticando os mesmos pecados, e não se converteu de seu mau caminho.
2) Quando seu filho adoeceu e estava às portas da morte, ele se lembrou do profeta Aías. Ele desejava consultar o profeta em relação ao seu filho, mas não teve coragem de ir até ele diretamente, enviando sua esposa disfarçada. Mas Aías tinha seus sentidos espirituais aguçados – apesar de estar praticamente cego fisicamente – e entrega uma profecia ainda mais dura para sua esposa: “Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Porquanto eu te levantei do meio do povo, e te fiz príncipe sobre o meu povo de Israel, e tirei o reino da casa de Davi, e to entreguei, e tu não foste como Davi, meu servo, que guardou os meus mandamentos, e andou após mim de todo o seu coração….antes, fizeste o mal, pior do que todos os que foram antes de ti..portanto, eis que trarei o mal sobre a casa de Jeroboão, e eliminarei de Jeroboão todo e qualquer do sexo masculino…e lançarei fora os descendentes da casa de Jeroboão…até que, de todo, ela se acabe….também o senhor ferirá a Isarel para que se agite como a cana se agita nas águas…abandonará a Israel por causa dos pecados que Jeroboão cometeu e pelos que fez Israel cometer.” (1 Rs 14:7-16).
Em um momento de tanta dor, a perda de um filho, Jeroboão busca o profeta do Senhor, mas ele estava longe do verdadeiro arrependimento. O fim de sua vida foi resumido na bíblia assim: “feriu o Senhor a Jeroboão, que morreu” (2 Cr 13:20). Deus deu a Jeroboão grandes oportunidades, mas ele fez péssimo uso delas. Deus tembém testificou pelo homem de Deus contra sua idolatria e mostrou ao mesmo tempo, ao curar sua mão (1 Rs 13:6) que Ele agiria em graça para com ele se ele tomasse um lugar de dependência e de necessidade do Senhor. Mas isso não teve proveito: ele persistiu no caminho mau. Deus tem prazer em colocar homens em lugares de responsabilidade e dar a eles oportunidade, que, se usadas de forma errada, se tornarão ocasião para julgamento.
Todos somos testados pela posição que Deus nos coloca em governo e providência. Se nada resultar disso para Deus, o julgamento é inevitável. Mas ter responsabilidade em relação a Deus é uma coisa, e pode ser sentido algumas vezes, mas ser sujeito a Deus a ponto de ser controlado por Sua vontade é outra coisa. Vemos que o julgamento ocorreu. Jeroboão não teve apenas uma vida de pecado, mas teve uma herança de pecado. Podemos resumir – em seu epitáfio – “Pecou e levou Israel a pecar”. Sua influência foi tão terrível, que arruinou as 10 tribos que ele governou.
Baseado no texto “Jeroboão, seu pecado e sua influência” de A.B. Simpson (Kings and Prophets of Israel and Judah).
3 Comentários. Deixe novo
Ótimo texto, ilustrando os princípios que o Senhor usa com seu povo e o alerta que nos traz por meio da sua Palavra.
Louvado seja o Cordeiro pela vida dos irmãos que tem disponibilizado um material tão enriquecedor para o Espírito em tempos de tanta confusão e trevas.
Obrigado por compartilhar, muito edificante
Dou Graças ao SENHOR nosso DEUS por usar Seus servos que trabalharam arduamente para tornar conhecidas estas obras tão pouco conhecidas pelos crentes atuais.
No amor de Cristo
João Júnior