Gino Iafrancesco
“Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós. Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica” (1 Co 3:9,10).
Vamos tomar por base esse texto de 1 Coríntios para fazer algumas considerações que também servem para distinguir os assuntos fundamentais (mais importantes, maiores, primeiros), daqueles outros assuntos que, em relação com os fundamentais, são secundários, menores, ou que não são tão relevantes como os fundamentais; ainda que também sejam importantes, como parte da Palavra de Deus.
O apóstolo disse: “segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento“. O Fundamento! Vamos notando, na medida em que lemos, que o apóstolo está mencionando dois níveis diferentes: Um nível é o fundamento do edifício. Mas, agora, sobre esse fundamento, alguém edifica. Existe então uma Edificação sobre o fundamento.
Paulo continua: “Ninguém pode lançar outro Fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (vs 11). Podemos notar a diferença da ênfase e rigidez do apóstolo entre a frase do verso 11 e as frases dos versos 9 e 10. Nos versos 9 e 10, quando se refere à Edificação sobre o Fundamento, Paulo diz: “Outro edifica sobre Ele. Porém cada um veja como edifica; porque ninguém pode lançar outro fundamento“. Paulo fala com uma ênfase diferente quando se refere ao Fundamento e, quando se refere à Edificação, ele não é tão rígido, dizendo: “Cada um veja como edifica”.
A Igreja precisa perceber claramente esses dois níveis:
1 – Aquilo que é fundamental, é imutável, é de primeira e absoluta importância, sem o qual ninguém está dentro do Edifício. Esse fundamento está claramente definido – é Jesus Cristo. O verdadeiro Jesus Cristo, Aquele testemunhado pelo Espírito Santo e através dos apóstolos do Novo Testamento. Este é o Fundamento. A respeito de Jesus Cristo, o assunto é muito sério: ninguém pode por outro fundamento!
2 – Estando as pessoas em Cristo, elas devem continuar crendo Nele, confiando Nele, vivendo por Ele. Então, cada um daqueles que já estão em Cristo devem atentar para como edificar sobre este Fundamento.
Quem não está sobre este Fundamento não está na Casa de Deus, na lavoura de Deus. Se alguém está sobre esse fundamento, se confia em Jesus Cristo, então pode passar para a parte da edificação. Depois de salva, a pessoa tem que usufruir de Cristo, crescer Nele, amadurecer. Isso está relacionado com o processo da edificação.
O Fundamento tem relação com a salvação e a Edificação tem relação com a recompensa, o Galardão. Como isso acontece?
O Fundamental tem a ver com Jesus Cristo e, como vamos ver nos versículos seguintes, está relacionado com a salvação. O fundamental afeta a salvação, e se for ignorado, a pessoa não pode ser salva. Se uma pessoa não crê em Deus, não recebe Jesus Cristo, ela não está no Fundamento e, portanto, não está salva.
A Edificação se relaciona com aqueles que já receberam a Cristo, e trabalham de maneiras diferentes, com diferentes materiais e estabelecem diferentes estruturas sobre o Fundamento. Esse trabalho não vai impactar na salvação do crente, mas está relacionado com o galardão, a recompensa que receberá ou não no futuro.
Seguindo adiante com essa passagem de 1 Coríntios 3, a partir do verso 12:
“Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha…”
Fora desse Fundamento não há como edificar nada, mas sobre Ele, pode-se formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno e palha. Contudo, a obra de cada um será provada.
O Fundamento é a obra de Deus em Cristo por nós.
A Edificação é a obra de cada um, em Cristo Jesus, para Deus.
O assunto Fundamental é este: Quem é Deus, quem é Cristo, que fez Cristo por nós? O assunto da Edificação é este: Depois que estamos em Cristo, sobre o Fundamento, o que fazemos nós para Deus, em Cristo Jesus? Depois de estarmos salvos (pela graça, na fé em Cristo Jesus), passamos a servir a Deus, e Deus vai galardoar esses nossos serviços. Não servimos a Deus para obter a salvação.
“Manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo.” (vs 13-15).
Somente naquele dia se verá a qualidade da obra que alguém fez para o Senhor (Leia mais sobre isso clicando aqui). Mas, quanto ao Fundamento, se este é Jesus Cristo, então Deus é fiel ao Fundamento. Essa pessoa está salva, porque a salvação depende do Fundamento, que é Jesus Cristo.
Essa diferenciação é muito importante para que possamos entender, na vida da Igreja, quais são as pessoas que pertencem ao Edifício de Deus. Todos aqueles que estão no Fundamento pertencem ao Edifício de Deus, estão salvos em Jesus. Todas as pessoas que estão no Fundamento, que estão em Jesus Cristo, são da Igreja. Todas as pessoas que pertecem à Igreja e moram na nossa localidade, pertencem à Igreja naquela localidade. Este é o círculo de inclusão da Igreja: a Igreja chega até onde está o Fundamento. Não existe nenhuma outra condição para pertencer à Igreja, somente crer em Cristo. Se alguém foi limpo pelo sangue de Jesus, foi regenerado pelo Seu Espírito, está no fundamento. Uma vez que alguém já está sobre o Fundamento, muitas coisas acontecem. Cada um edifica sobre este Fundamento de forma diferente, com materiais diferentes, e isso toca o nível do galardão. Ou seja, se o Senhor não aprovar a obra dessa pessoa, ela será salva por meio do fogo. Ela sofrerá um detrimento, seu galardão está em jogo, mas todavia está salva.
Na segunda epístola do apóstolo João, nos é dito no verso 8: “Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes completo galardão”.
A partir daí vemos que, no que diz respeito ao galardão, é possível perder parte dele. Temos que zelar pelo que já temos ganhado, a fim de recebermos inteiro galardão, porque ele pode crescer ou diminuir. Mas o Fundamento, ao contrário, é estável.
Na Igreja, temos que ter em conta esses dois aspectos: o Fundamento e a Edificação. Se nós temos somente em conta o aspecto Fundamental, ou seja, o da salvação, vamos estar desapercebidos no tocante ao desejo do Senhor sobre Sua Edificação. O Senhor quer o Seu povo salvo, sim, mas para fazer o Seu Edifício. Ele quer um Reino, Ele preparou um Reino. Por um lado, não temos que nos descuidar do assunto do Reino, que se relaciona à Edificação. Por outro lado, não devemos cair no rigor de pensar que somente aqueles que são puros, que pensam como “nós” são a Igreja. Ninguém jamais deve pensar: “Somente aqueles que sentem como eu sinto, que trabalham como eu trabalho, e somente aqueles com quem tenho relação é que são da igreja”.
Nosso relacionamento é baseado no Fundamento, e o Fundamento é Cristo.
Nosso relacionamento com os santos não é baseado sobre o quanto alguém compreende ou não a respeito da Igreja. A base para nossa comunhão é a obra do Senhor feita em nós, sobre o que o Senhor é para nós. O Senhor Jesus Cristo é o Único Fundamento de todas as coisas.
Continua no próximo post.
Extraído do livreto esgotado: “A Relação entre Fundamento e Salvação, Edificação e Galardão”, de Gino Iafrancesco, publicado pela CCC Edições.