Notas sobre o Livro de Números
“Ordena aos filhos de Israel que lancem para fora do arraial todo leproso, todo o que padece fluxo e todo imundo por ter tocado em algum morto; tanto homem como mulher os lançareis; para fora do arraial os lançareis, para que não contaminem o arraial, no meio do qual eu habito.”
(Nm 5:2,3)
A Pureza Devida no Acampamento
O acampamento dos filhos de Israel foi ordenado em relação à Tenda da Congregação, o serviço dos Levitas foi apontado, e agora vamos aprender como Deus habita no meio do acampamento. Isso demanda certas condições de pureza, para que a condição do povo fosse adequada à presença Dele. Vemos em primeira mão a ordem de colocar fora todos os leprosos, e isso não era uma tarefa apenas dos Levitas, era uma responsabilidade solene de todos os filhos de Israel. Vemos que “os filhos de Israel fizeram assim” (vs 4); e não houve hesitação em seguir o mandamento divino.
O leproso era uma doença entranhada que era típica do pecado, como o princípio da iniquidade ativa trabalhando por meio da carne. Uma pessoa caracteriza pela atividade da vontade-própria é um leproso moral. Essa pessoa não teria lugar no sistema que é ordenada em cada detalhe em acordo com a vontade de Deus. O princípio da vontade-própria é impuro, onde quer que ele seja encontrado, mas nunca é tão manifestadamente impuro quando quando é encontrado se afirmando na esfera das coisas divinas. Deve ser totalmente recusado um lugar para a carne ali.
Aqui temos desenrolado perante nós, em poucas palavras, o grande princípio fundamental em que é baseada a disciplina da assembleia – um princípio, que apesar de ser da maior importância, infelizmente, é tão pouco compreendido ou observado! Era a presença de Deus no meio o Seu povo, Israel, que exigia santidade da parte deles.
Vemos que antes, em Levítico, as ordenações não eram tão estritas quanto em Números. Antes que as coisas sejam ordenadas por Deus, Ele pode permitir que algumas coisas não estejam em conformidade com Sua vontade, mas quando Ele dá luz de Seu propósito sobre as coisas um novo padrão é colocado. Deus permitiu que muitas coisas passassem no meio da Cristandade professa, quando a ordem divina é desconhecida, entretanto, Ele trataria essas coisas de forma diferente quando elas tomam lugar entre aqueles que conhecem a Sua vontade. Luz aumentada também representa uma maior responsabilidade diante de Deus.
Uma grande restrição deveria ser colocada para a vontade-própria, e sobre as manifestações da carne, porque essas coisas não são cabíveis ao lugar onde Deus habita. Esse é o pensamento em 1 Coríntios 5, quando o apóstolo Paulo fala do velho fermento.
As pessoas perversas não devem ser mantidas em comunhão com o povo de Deus.
Adicionalmente, no que tange ao contato com um homem morto (não uma carcassa, por exemplo), vemos que a morte em si mesmo não corrompe, mas o homem nesse estado. Tocar em um corpo morto poderia tipificar um contato com algo moral que não tem vitalidade na direção de Deus. Existe muito disso na profissão Cristã, como vemos na epístola à Igreja de Sardes em Apocalipse 3:1 (tens nome de que vive, mas estás morto). Esse estado corrompe o povo de Deus. Existe uma ofensa ativa no leproso, que representa a carne expressa e manifesta sem restrição. Mas a corrupção de contactar algo morto é mais negativo; representa o efeito dessa influência na pessoa que entra em contato com ele. Se o homem, de acordo com a carne, não se entrega à Deus, dar a esse homem um lugar “religioso” é trazer para dentro o que é essencialmente impuro. O que é da carne, mesmo que de forma religiosa, não responde à vontade de Deus – e corrompe aquilo que está ao seu redor.
O lugar que habita o Santo Senhor deve ser santo.
O Fator Corporativo
Já observamos que a redenção era a base de habitação de Deus no meio do Seu povo. Mas devemos recordar que a disciplina era essencial à Sua permanência entre eles. Deus não podia habitar onde o pecado era deliberada e declaradamente aprovado.
Esse princípio está claramente descrito no capítulo 7 de Josué. Examine esse capítulo atentamente, e atente para esse “grande monte de pedras” no vale do Acor (Sl.89:8 ; Hb.12:29). Qual é o significado de tudo isto? A concupiscência tinha sido concebida no coração de um membro da congregação, dando à luz o pecado. Então? Isto envolvia toda a congregação? Sim, lá vemos que Israel pecou…
“Israel pecou, e violaram a minha aliança, aquilo que eu lhes ordenara, pois tomaram das coisas condenadas, e furtaram, e dissimularam, e até debaixo da sua bagagem o puseram.”
(Js 7:11)
Como era isto? A assembleia era uma. A presença de Deus no meio da congregação a constituía em uma unidade, unidade tal que o pecado de cada um era o pecado de todos.
“… Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?”
(1Co 5:6)
Assim, quer seja no capítulo quinto de Números, quer no capítulo quinto de 1 Corintios, aprendemos a mesma verdade solene do Salmo 93:5 “A santidade convém a tua casa, Senhor, para sempre”. Além disso, aprendemos que a disciplina deve ser mantida entre o povo de Deus e não com os de fora. O que lemos nas primeiras linhas de Números 5? Ordenou-se aos filhos de Israel que lançassem fora do acampamento todos os que não fossem Israelitas, todos os que não estivessem circuncidados, todos os que não pudessem estabelecer a sua linhagem em linha reta até Abraão? Eram estes os motivos de exclusão do acampamento? De modo nenhum. Quem devia então ser posto fora? “Todo o leproso”, quer dizer, todo aquele em que se reconhece que o pecado opera. “Todo o que padece fluxo” – isto é, todo aquele de quem emana uma influência corruptora; e, “todos os imundos por contaminação de algum morto”.
Mas por quê? “para que não contaminem os seus arraiais, no meio dos quais EU HABITO”. E assim é agora. Não julgamos nem reprovamos uma má doutrina a fim de mantermos a nossa ortodoxia; nem tão pouco julgamos e lançamos fora alguém para mantermos a nossa reputação e respeitabilidade. O único fundamento de juízo e exclusão é este: “A santidade contém à Tua casa, Senhor, para todo sempre” (Sl.93:5)