A “Carta do Editor da Revista “Uma Testemunha e Um Testemunho” (Julho-Agosto de 1942) é uma tradução da carta do editor da Revista “Uma Testemunha e Um Testemunho” no.4, Vol.20, de Julho-Agosto de 1942. Essa publicação é parte da série “Edificando em tempos angustiosos”.
T. Austin-Sparks
Amados de Deus,
Em momentos como esse, não é mera formalidade enviar saudações a nossos companheiros no corpo de Cristo em tantos lugares da terra. Nós verdadeiramente garantimos que vocês estão continuamente em nossos corações. Dissemos anteriormente que nossa lista de envio não faz parte apenas de um trabalho ou um negócio comum. O mapa está na nossa mente o tempo todo. Esse ministério tem nos custado muito para se tornar algo formal ou rotineiro.
Existe um assunto no meu coração no qual busco uma comunhão especial com vocês em oração. Está relacionado com a obra do inimigo de trazer cegueira ao povo de Deus. Nessa revista, incluímos a primeira de uma série de mensagens sobre visão espiritual*. O assunto é ali coberto de uma maneira espiritual, mas no momento, desejo fazer um apelo mais pessoal e direto.
Entre o povo do Senhor, a maior necessidade do momento é ter olhos abertos e precisamos de um ministério que abra os olhos. Nos tempos antigos, o profeta era chamado Vidente, aquele que via. O verdadeiro Vidente enviado de Deus era o intérprete dos tempos e dos pensamentos de Deus naquela ocasião. Como precisamos de alguns Profetas ou Videntes para interpretar o tempo presente e os propósitos de Deus!
Aqui na Grã-Bretanha e em muitas outras partes do mundo, quase não foi deixada pedra sobre pedra dos prédios religiosos, incluindo os mais evangélicos e com grande pano de fundo histórico. Em muitos lugares, as atividades de instituições Cristãs foram levadas a uma paralização. Muitos Cristãos e servos de Deus foram mortos, não na obra do Senhor, mas engolidos pela destruição geral provocada pela guerra. Uma situação completamente nova está surgindo na maioria dos campos de atividades Cristãs. Condições muito severas parecem estar se desenvolvendo rapidamente numa parte cada vez maior do mundo. O que os acontecimentos atuais na Índia, por exemplo, pressagiam, só podemos conjecturar imperfeitamente. E ainda assim, o único pensamento positivo entre os líderes parece ser de reconstruir o que foi destruído e retomar às velhas práticas. Esperávamos ansiosamente, mas até agora não conseguimos detectar nenhuma investigação genuína e tentativa de compreender aquilo que Deus pode estar querendo nos dizer com tudo isso. Se Ele é realmente o Senhor e está interessado, Ele certamente não permitiu e não está permitindo tudo isso sem um objetivo.
Mas existe algo pior. Em muitos desses grandes campos de ocupação Cristã, “aqui e no exterior”, em meio ao povo de Deus, apesar de tudo, ainda é permitido que coisas Cristãs tenham a preeminência sobre Ele. A “obra”, a “sociedade”, a “missão”, a “igreja”, uma interpretação da verdade, as tradições formam um laço forte e mantém vivas rivalidades, preconceitos, suspeitas, ciúmes e medos. Assim, o Senhor não tem chance de fazer “algo novo”.
Será que a presente situação, sua disseminação e intensificação, significa que o Senhor, por amor de Seu pleno propósito, pelo Seu povo e pelo mundo, necessite criar uma condição que trará o povo – primeiramente o Seu próprio povo – ao ponto onde eles clamarão seriamente que: não mais “nos digam coisas aprazíveis”, mas “digam-nos o que é reto” [Is 30:10]!?
Será que o Senhor está procurando levar Seu povo ao ponto onde perceberão que nada menos que um novo e mais completo conhecimento do Senhor irá salvá-los da luta? Ele nunca foi capaz de trazer Seu grande propósito à luz, sem que houvessem dores de parto. Essa é uma lei na natureza em graça, desde que Adão pecou. A criação verdadeiramente sofre dores de parto agora. Estará a Igreja entrando em um novo trabalho de parto? Será que existe aqueles, dentre o grupo de crentes em geral, que estão sendo levados a sofrer dores com Deus, sofrendo angústia de alma e espírito? Se é assim, qual a finalidade desses acontecimentos e até quando? Não presumo saber toda a resposta e ainda a retenho no momento. Meu ponto é incentivar o seu sincero contato com o Senhor, para que Ele tire o véu que cobre os olhos do Seu povo. Esse véu, Satanás colocou sobre eles, para que as plenas intenções de Deus em Seu Filho não sejam reveladas. Posso contar com suas orações pela destruição dessa obra do diabo e pela abertura dos olhos do povo de Deus em particular?
Muitas mudanças parecem ser possíveis no futuro próximo, e se a qualquer momento se tornar mais difícil, ou até mesmo impossível nos comunicarmos e continuarmos com esse ministério pelos correios, lembrem-se que as comunicações por meio do Trono nunca serão interrompidas e a unidade do Corpo será verdadeiramente conhecida e útil.
Com amor no nosso Senhor, que reina.
Seu através da Sua graça,
T. Austin-Sparks
*A série de mensagens referidas nessa carta chamadas “Visão Espiritual” foram traduzidas para a língua portuguesa e publicadas pela Editora dos Clássicos em um livro com o mesmo nome.