A “Carta do Editor da Revista “Uma Testemunha e Um Testemunho” (Novembro-Dezembro de 1941) é uma tradução da carta do editor da Revista “Uma Testemunha e Um Testemunho” no.6, Vol.19, de Novembro-Dezembro de 1941. Essa publicação é parte da série “Edificando em tempos angustiosos”.
T. Austin-Sparks
Amados de Deus,
Estamos admirados e cheios de louvor pelo fato de que, depois de dois anos de guerra, ainda somos capazes de enviar esse instrumento de ministério a tantas partes do mundo. Escrevo essa carta logo depois do primeiro ano em que ocorreu o terrível assalto à Londres, que foi uma parte vital do que veio a ser conhecido como a “Batalha da Grã-Bretanha”. Doze meses atrás, fogo e destruição choviam dos céus ao nosso redor, à poucos metros de distância. Por meses isso continuou ocorrendo, e algumas vezes imaginamos se alguma coisa restaria disso tudo. Mas aqui estamos nós! Nunca precisamos parar nossas conferências, nem o ministério regular foi interrompido.
Houve dias escuros e extenuantes, e ocorreu muita dispersão. Se você olhar para a coluna de “Agradecimentos” da revista “Um Testemunho e uma Testemunha” dos últimos um a dois anos, terá uma idéia, não completa, de como a Palavra seguiu em frente, lembrando que em praticamente cada uma das ocasiões em que uma carta de agradecimento era recebida, era acompanhada de um pequeno donativo. Podemos verdadeiramente dizer: “mas, alcançando socorro de Deus, permanecemos até ao dia de hoje” [At 26:22].
Mas que batalha espiritual! Apesar de nosso desejo dominante ser que o Senhorio de Cristo – a base de Sua plenitude nos santos – seja algo realizado por todos os que são Seus, somos amargamente odiados e sofremos oposição de muitos filhos de Deus. Alguns oram fervorosamente contra nós. Que estranho é que, enquanto tantos estejam suplicando ao Senhor para nos extinguir, de tantas partes do mundo filhos e servos de Deus, das mais diversas missões e denominações, estão a todo o tempo enviando testemunho escrito do enriquecimento de vida e ministério por meio desse instrumento! E é muito comum que os que testificam isso sejam aqueles que estão passando ou passaram pelas chamas da provação, ou que já passaram dos estágios elementares da vida Cristã.
Não estou tentando trazer uma solução para esse enigma, mas menciono isso na esperança de que alguns possam pausar antes de colocar em risco a perspectiva da plenitude de Cristo em sua própria vida ou na de outros, como aconteceu com Israel na antiguidade, ao aceitar um “relato infame” [conf. Nm 12].
De nós mesmos, vamos buscar ser fiéis e nos recomendar à aprovação de Deus “por infâmia ou boa fama” [2 Co 6:8]. Se apenas o povo universal do Senhor pudesse se afastar das coisas e se absorvesse apenas com Ele, quanto dessas coisas cessaria e quanto seria feito por Ele!
Apelo a vocês, amados do Senhor, a se empenharem em preparar um caminho para o Senhor. Não vamos permitir que as questões e relacionamentos sejam balizados pelo critério de ‘quanto isso ajuda ou atrapalha essa ou aquela iniciativa, movimento, sociedade ou parte da obra?’ mas, ‘quanto desse ministério contribui com o aumento de Cristo nos santos?’
Podemos assumir que um verdadeiro aumento de Cristo terá efeitos em muitas direções, mas elas nunca devem ser separadas e tornadas em preocupações primordiais. Estou cada vez mais convencido de que, para todos esses tipos de problemas que afligem os santos, individual e coletivamente, o segredo da vitória, libertação e salvação é muito simples, no que diz respeito à sua prescrição e seu uso. A dificuldade é o honesto e sincero uso dela, como acontece com tantos pacientes diante do remédio.
Essa prescrição é encontrada numa curta frase usada frequentemente por Paulo:
“Segundo Cristo Jesus”
(Romanos 15:5 – Colossenses 2:8).
Seria algo maravilhoso se, na esfera da medicina, pudesse ser encontrado um remédio que pudesse curar todas as moléstias conhecidas. Que vasta quantidade de complicações e confusões seriam removidas de uma só vez. É quase que um pensamento ou perspectiva por demais grandioso. Há muito da vida envolvido com os sistemas intermináveis de cura e o incontável número de remédios. Não só existem variedades de proposições e de escolas, mas também temos fortes e ferozes rivalidades na medicina e cirurgia – escolas opostas.
Anos atrás, alguém deu ao ministério espiritual o nome de “a cura das almas”. Aquela “cura” ultrapassa de longe a questão da salvação individual. O Apóstolo Paulo, em particular, teve todo o seu tempo tomado com a “cura” dos crentes, e a “cura” das igrejas. As enfermidades de indivíduos e igrejas eram tantas; desde pecados mais grosseiros, até ciúmes, facções, interesses pessoais, falsas doutrinas e toda a complexidade da técnica da igreja.
Mas este servo de Deus propôs um remédio universal, uma panacéia para todos os males. Você me pergunta: “Será que isso é possível?” Sim! Nessa esfera das desordens espirituais do povo do Senhor, sejam pessoais ou coletivas, para os salvos e os não salvos das mais diferentes constituições, temperamentos, heranças, etc, existe UM REMÉDIO UNIVERSAL que simplifica muitos as coisas. Ele coloca de lado milhares de perguntas e perplexidades. O germes maldosos da suspeita, preconceito, medo, ciúme e muitas outras coisas como estas serão aniquiladas pelo poder dessa nova Vida. As desarticulações entre as pessoas serão efetivamente resolvidas de forma rápida e efetiva. Toda a questão da ordem e técnica das igrejas e suas particularidades espontaneamente se resolverá e será respondida. A enfermidade da inércia espiritual e falta de preocupação com a salvação e bem eterno dos outros se renderá a uma nova vitalidade e energia.
Sim, existe uma cura todo inclusiva, mas dizer isso não tem maior valor do que uma propaganda, a não ser que isso seja crido e obedecido.
O que é então esse remédio todo inclusivo? Não vai ajudar muito apenas dar uma resposta simples, então precisaremos ilustrar ou exemplificar. É bem claro que cada carta escrita pelo Apóstolo Paulo discorria sobre algumas doenças tratadas na ocasião. Isso equivale a dizer que, haviam coisas que estavam erradas em cada lugar para onde as cartas foram escritas e que precisavam ser acertadas. O caso mais marcante é o de Corinto. As desordens e enfermidades de lá, tanto individuais como coletivas, eram inúmeras e grandiosas. Enquanto o Apóstolo se referia a elas especificamente, repreendeu, reprovou, exortou e advertiu em cada situação específica. Ele sabia muito bem que elas nunca seriam esclarecidas se fossem tratadas como fatos isolados. Não havia sentido em tentar obter uma solução por meio de discussão, debate, lógica, persuasão pessoal ou ameaça. O seu remédio inclusivo é anunciado e prescrito logo no início da primeira carta endereçada a eles: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” [1 Co 2:2].
Em outras palavras, a posição finalmente estabelecida de Paulo foi que a paixão por Jesus Cristo, em termos de sua cruz, isto é, em termos de amor, do abandono de todo interesse pessoal e do resquício de toda mentalidade natural, resolve todo problema e cura toda enfermidade. Paulo acreditava que se conseguisse levar aqueles crentes a tornarem-se realmente cativados por uma preocupação por Cristo, como objetivo de crescentes devoção e rendição a Ele, todos os males e coisas nocivas desvaneceriam.
Se algo além das vantagens pessoais iniciais e básicas da salvação tomassem seus corações, muitas dessas condições infelizes na vida cristã individual e corporativa desapareceriam. Isso equivale a dizer que, se o Senhorio de Cristo recebesse seu lugar e Sua plenitude fosse o objetivo governante, a vida iria prosseguir em ascendência, se alargando além da medida pequena e mesquinha tão característica em tantos.
Se pudéssemos demonstrar como o Senhorio de Cristo numa vida, numa igreja, ou em todas as igrejas é a solução para cada problema e dificuldade! Peça ao Senhor para imprimir isso em seu coração, primeiramente esse fato, para então conduzi-lo a essa realidade. Nos devotamos a esse ministério até que, pela Sua graça e ajudados pelas suas orações, com todos os santos, “cheguemos… à medida da estatura da plenitude de Cristo” [Efésios 4:13].
Cumprimento os amados novamente, enquanto trabalhamos e permanecemos firmes com a espátula [colher de pedreiro] e a espada, espalhados extensivamente sobre o único muro, unidos pela trombeta do testemunho e o Encabeçamento do nosso Senhor exaltado.
Seu em Sua comunhão,
T. Austin-Sparks.