O servo fiel – 1

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O servo fiel – 1 é uma tradução do capítulo 6 do livro “Face to Face“, de Jessie Penn-Lewis.

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Jessie Penn-Lewis (1951-1927)

Leia o post anterior.

“E Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo” (Hebreus 3:5).

Não precisamos registrar os passos de Moisés ao retornar à terra do Egito, a não ser para notar um incidente nessa jornada.

Deus parece não ter dado direções definidas relacionadas à Sua vontade, no que dizia respeito à esposa e filhos de Moisés, nessa jornada que estava diante dele. Lemos apenas que ele levou consigo sua família. Talvez como uma “coisa natural”!  Mas Deus não permitirá que Sua vontade seja menosprezada. Ele tem que nos deixar descobrir, algumas vezes dolorosamente, que nunca buscamos Sua vontade sobre um passo em particular, e tão rápida e instintivamente seguimos em frente em nosso caminho. A vida de real dependência do Senhor a cada momento não é algo fácil de aprender. Ele poderia ter dito a Moisés: “Vá, tome tua família e retorne ao Egito”- mas Ele não fez isso.

O Senhor permitiu que Moisés começasse sua jornada, junto com sua família, mas quando eles estavam em uma estalagem, nos é dito que “encontrou-o o SENHOR e o quis matar”(Ex 4:24). Ele evidentemente falhou em obedecer aos mandamentos de Deus no que diz respeito à circuncisão, e fez isso por causa das objeções de Zípora, sua esposa. Mas o Deus fiel não poderia passar por cima de nenhum desvio de Sua vontade. Assim, Ele coloca Suas mãos sobre Moisés, tão inequivocamente, que sua mulher foi forçada a reconhecer a causa, entregando assim o ponto disputado. A vida, então, foi poupada.

Essa disciplina aguda parece ter mostrado a Moisés que ele deveria ir sozinho para o Egito, pois Zípora, com os poderes desse mundo, evidentemente não poderia entrar naquele conflito que estava sobre os poderes das trevas. As palavras amargas que ela usou demonstraram claramente que ela iria embaraça-lo em sua missão a Israel. Assim, ele envia de volta sua família para o cuidado de seu sogro, Jetro, por um tempo, e então, segue sozinho em direção ao desconhecido.

Um passo de cada vez! – É o suficiente para o dia. Moisés não pensou no todo quando estava diante do Senhor. Então, Arão, enviado por Deus, o encontra no caminho, e juntos eles vão aos anciãos de Israel e iniciam sua missão. “E o povo creu” [Ex 4:31] – Deus deu tão claro testemunho a todos de que foi Ele Quem fez a promessa, que eles não apenas creram, mas “inclinaram-se e o adoraram”.

Passando pelos detalhes dessa impressionante história de como Deus operou Sua libertação por Israel, vamos brevemente considerar as principais características da caminhada de Moisés com Deus a partir desse momento.

O Servo Fiel:

1. Sua absoluta e implícita obediência a Deus. Ele fez exatamente o que Deus o mandava fazer, e nada mais. Repetidamente ele se voltava à Deus e foi duramente provado com os primeiros resultados de sua missão, até que o último conflito da fé se tornou severo demais para ele suportar. Então ele disse: “Ó Senhor, … Por que me enviaste? Pois, desde que me apresentei a Faraó, para falar-lhe em teu nome, ele tem maltratado este povo; e tu, de nenhuma sorte, livraste o teu povo”(Ex 5:22,23).

Esse foi um teste severo! Se ele não tivesse adquirido um relacionamento com Deus, com uma comissão tão qualificada e inconfundível, e um conhecimento tão claro de Sua vontade, seu coração poderia ter falhado. Mas Moisés estava seguindo de “fé em fé”, e a fé cresce pelas provas. Apenas assim ela pode ser desenvolvida e amadurecida, até que possa crer contra a esperança e clamar na face de todos os obstáculos: “Isso será feito”.

Deus agora dá a Moisés uma fresca e mais implícita mensagem para aquele povo oprimido. Nessa mensagem, o Senhor dá sete promessas dentro do Alfa e Ômega do: “Eu sou o Senhor”(Ex 6:6 – 8). O Senhor era conhecido de Abraão, Isaque e Jacó como El-Shaddai, o derramador das bênçãos, mas agora Ele se revelaria para Israel como Jeová, o Deus Justo, que precisa julgar o pecado pela Sua natureza Santa e Justa.

Ao voltar para os israelitas feridos, Moisés leva sua Magna Carta da prometida libertação, mas o povo estava em tal angústia, que não conseguia ouvi-lo – eles estavam muito sobrecarregados com suas angústias para conseguir prestar atenção. O que poderia ser feito agora? Como suas almas poderiam ser erguidas, quando estavam tão esmagadas para prestar atenção? Certamente Deus tinha deixado isso ir longe demais! O coração de Moisés certamente estava retorcido de angústia. Ser enviado por Deus para libertar, e ser o próprio meio de mergulhar as almas que ele veio ajudar em um sofrimento ainda maior – isso demandava por fé para confiar em meio a uma circunstância como essa: a mesma fé que Jesus teve no Seu Pai, quando Ele ouviu que Lázaro estava morto, e ainda assim se atrasou dois dias no lugar onde estava.

Isso significa entrar “na comunhão dos Seus sofrimentos”, quando precisamos esperar pela Sua hora chegar; e a Sua permissão para nos mover ou falar. Esperar e ver a fornalha ardente ser mais aquecida [Dn 3:19], sabendo que os sofredores vão te reprovar por levar a mensagem de Deus que falava de libertação, mas que, pelo contrário, aparentemente só os colocou nas chamas. Ah, isso é verdadeiramente sofrimento! Mas, apenas assim, podemos conhecer a comunhão das aflições de Cristo, à medida que com Ele esperarmos e vigiarmos; e, como Ele ficarmos profundamente angustiados e atribulados. Assim como Ele estava no túmulo de Lázaro, mesmo apesar de saber que aquele que foi ferido iria ouvir a Sua voz e sairia para uma nova vida no poder de Sua ressurreição.

Moisés sofreu por essas almas afligidas, como nunca havia sofrido antes em seus primeiros dias, quando, movido e despertado a olhar para suas cargas, foi levado por sua feroz indignação e matou um Egípcio. Agora, esse profundo e silencioso homem tinha uma capacidade para sofrer, que não tinha outrora. Oh, a angústia na voz quando clamou ao Senhor: “de nenhuma sorte, livraste o teu povo”. A cruel servidão dos oprimidos de Israel obscureceu seu coração, e quando o Senhor o comanda de novo para ir à Faraó, ele está deprimido e abatido, e responde: “Eis que os filhos de Israel não me têm ouvido; como, pois, me ouvirá Faraó?”(Êxodo 6:12).

Jeová não leva em consideração essa nuvem que passa, mas simplesmente o ordena que vá à Faraó e lhe diga que fará de Moisés “Deus” para ele, com Arão como um profeta. Ou seja, ele será revestido de total poder e autoridade de Deus, e se posicionará em Seu lugar diante do rei pagão.

Depois disso, temos o constante refrão: “assim fez Moisés e Arão; como o Senhor lhes ordenara, assim fizera”(Êxodo 7:6, etc). Passo a passo, eles tiveram que simplesmente obedecer; e observamos esses dois homens silenciosamente, com fidelidade, seguindo cada direção dada a eles pelo Senhor. Como a fé deles cresceu, à medida em que Deus deu testemunho de cada passo! A primeira manifestação de Seu poder foi o transformar do bordão em uma serpente, assim como Moisés já havia visto e feito antes; e a partir desse ponto, de fé em fé, as maravilhas foram crescendo.

O que Deus não podia fazer com aquele pequeno bordão! Esse foi o meio de poder nos primeiros três julgamentos que Deus enviou à Faraó. Então, Moisés foi comandado simplesmente a dizer: “Assim diz o Senhor,” e Deus dava testemunho da palavra, sem o uso do bordão. Será que Moisés começou a se apoiar nele de alguma forma?

Deus não vai nos deixar apoiar nas coisas que Ele nos concedeu ou usou no passado; e isso requer Seu incessante cuidado para nos preservar de nos apegarmos a, ou nos apoiarmos em qualquer coisa fora Dele mesmo e Sua pura palavra. Assim será no final, e isso é a causa de tantos tratos estranhos do Senhor conosco. As coisas que Ele dá devem ser devolvidas, e novamente dadas e devolvidas, de forma que possamos ser mantidos livres e maleáveis para Ele fazer conosco o que desejar.

Precisamos também ser libertos de concepções rígidas de Seu método de operação. Ele usou o bordão nos primeiros milagres, então Ele mostra a Moisés que Ele também pode operar sem o bordão, porque nada é necessário para Ele. Os próximos milagres foram realizados pela palavra de Jeová por meio de Moisés. Os enxames de moscas vieram depois da palavra “Assim diz o SENHOR:.. eis que eu enviarei enxames de moscas sobre ti… amanhã se dará este sinal” (Êxodo 8:20-23). Novamente, antes da praga dos animais, Moisés disse: “Assim diz o SENHOR,… eis que a mão do SENHOR será sobre o teu rebanho… com pestilência gravíssima.” (Êxodo 9:1-3) – e assim aconteceu.

Mais uma vez Deus mudou Seus métodos: a sexta praga foi trazida de forma diferente, e o bordão foi usado novamente. Tudo isso ensinou Moisés a ser flexível nas mãos do Senhor, e muito obediente. Isso o ensinou a seguir em frente um passo de cada vez, e não ter predefinições de como Deus iria operar naquele dia.

2. Sua Fidelidade Inflexível. Era absolutamente necessário que ele não mudasse nada daquilo que Deus falou. Faraó negociava e buscava leva-lo a fazer concessões, à medida que os julgamentos de Deus caíam sobre ele, mas Moisés não podia se desviar. Se ele cedesse um grau, teria falhado com o Senhor e frustrado Sua proposta para a libertação de Israel. Em nenhum momento ele ousou agir como um agente independente a favor de Deus.

Ide, oferecei sacrifícios ao vosso Deus nesta terra” (Ex 8:25), disse o Faraó, e Moisés poderia ter dito, “Por que não nesta terra? Essa é uma grande concessão, não podemos esperar por mais do que isso”. Mas não, Deus havia dito três dias de jornada fora do Egito, então deveriam ser três dias de jornada. “Deixa ir os homens, para que sirvam ao Senhor, seu Deus”(Ex 10:7), disse agora Faraó. Não, Deus havia dito “todos” [não apenas os homens]. Então “Ide … fiquem somente os vossos rebanhos e vosso gado”(Ex 10:24). Não, “nenhuma unha ficará” (vs 26), disse o inflexível servo do Senhor, que foi fiel Àquele que o comissionou.

Jamais seremos conduzidos a conhecer uma amizade “face a face” com Deus, enquanto não sejamos também fiéis e totalmente obedientes a cada palavra do que Ele disser.

Não é pouca coisa ser chamado de “amigo de Deus”!  Sem dúvida custou a Abraão muitas lágrimas e horas de conflito “contra a esperança”, quando ele “creu na esperança” de que Deus cumpriria Sua palavra. Custou muito a Moisés permanecer verdadeiro, sem hesitação para com Deus, diante dos sofrimentos de Israel e das propostas de Faraó.

Amizade face a face com Deus em seu pleno sentido é apenas dada quando a lealdade da alma for provada além das questões, e a fé sobreviver a cada teste.

Gostou do artigo O Servo Fiel – 1? Continue lendo no próximo post.


Jessie Penn-Lewis (1851-1927) nasceu no País de Gales, em uma família metodista calvinista. Sempre teve uma constituição física frágil, estando constantemente muito doente. Penn-Lewis foi muito impactada pelo ministério de Evan H. Hopkins, quando lhe foi apresentado o caminho da vitória por meio da Cruz de Cristo. Ela tinha um forte encargo com a mensagem da identificação do crente com o Senhor na Cruz, para manifestar o poder de Sua morte e ressurreição. Sua contribuição foi grande no sentido de reavivar entre os crentes a verdade da vida interior e da mensagem da Cruz. Assim como Madame Guyon, Fénelon e outros místicos cristãos, ela enfatiza fortemente em seus escritos a necessidade de uma vida interior de oração e contemplação do Senhor Jesus, e uma experiência subjetiva da Cruz. 

Jessie Penn-Lewis era casada, mas não teve filhos. Apesar de enfrentar diversos períodos de severas enfermidades, ela ministrou sua mensagem em vários países como Índia, Canadá, Rússia e Egito, pregou na Convenção de Keswick, iniciou a publicação da revista The Overcomer (O Vencedor), e publicou livros e artigos sobre diversos assuntos. 

Penn-Lewis foi contemporânea de G. Campbell Morgan, F. B. Meyer, A.B. Simpson e T. Austin-Sparks. Em 1934, Watchman Nee afirmou que “durante os últimos anos, quase todas as mensagens comentadas entre os crentes espirituais têm sido ensinamentos de Jessie Penn-Lewis”.  

Para conhecer mais a respeito do encargo e mensagem de Jessie Penn-Lewis, é possível ler ainda hoje edições da Revista O Vencedor. Os livros “Guerra contra os Santos” e “A Cruz, o caminho para o reino” foram publicados no Brasil pela Editora dos Clássicos.

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