“A Escolha do Coração Humano” é a segunda parte do artigo “A Vida do Ego”, que é a tradução do capítulo 5 – “The Self Life (A Vida do Ego), do livro “Christ in you” (Cristo em vós), de A.B. Simpson. Você pode ler aqui as parte 1 – O Reino Falsificado de Satanás e parte 3 – Os Testes de Saul.
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A. B. Simpson (1843-1919)
“Havia um homem de Benjamim, cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate, filho de Afias, benjamita, homem de bens. Tinha ele um filho cujo nome era Saul, moço e tão belo, que entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima, sobressaía a todo o povo” (1 Sm 9:1,2).
Uma Figura Esplêndida para a Escolha do Coração Humano
Vemos o espírito do ego no caráter de Saul, nas características que o tornaram a escolha e o ídolo do povo. Saul representava tudo o que era forte, cortês, atrativo e promissor na natureza humana. Ele era uma figura esplêndida para contemplar, era o mais alto e sobressaía de todo o povo do ombro para cima – “cada centímetro dele remetia a um rei”.
Ele possuía as qualidades intelectuais, morais e sociais que constituíam um líder. Ele era corajoso, heroico, entusiasta e generoso, e os anos iniciais de seu reino eram adornados com impressionantes exemplos de feitos heróicos. Ele é tudo o que o coração humano escolheria. Ele representava as melhores possibilidades da natureza humana.
Mas Deus precisava deixar Saul diante das eras, para mostrar que o homem em seu melhor é apenas homem, e que a autossuficiência humana certamente sucumbirá em derrota e tristeza. Essa é a lição que Deus está tentando ensinar a Seus filhos. Aqueles que aprenderam essa lição podem dizer, “eu reconheço isso em mim mesmo”. A sentença de morte foi dada à carne e existe apenas uma coisa que podemos fazer com ela – pregá-la na cruz de Jesus Cristo, considera-la morta e mantê-la para sempre em Seu túmulo sem fundo.
Todas as Qualidades Certas
O espírito do ego em Saul combinava muitas coisas que eram boas e atrativas tanto natural como espiritualmente. Naturalmente, vimos que ele não era apenas um homem de postura magnífica, mas era alguém com muitas nobres e heroicas qualidades. Ele também tinha uma família encantadora. Seu filho Jonatas é uma das figuras mais atrativas na longa galeria de personagens Bíblicas.
Quando Saul veio a Samuel e foi chamado inicialmente para ser rei, ele pareceu ter todas as qualidades certas. Como um filho responsável, ele foi buscar as mulas de seu pai, e então foi ao profeta Samuel para buscar conselho de como encontrá-las. Quando ele veio a Samuel e este lhe entregou a extraordinária mensagem e o ungiu para ser rei, não havia nele nenhuma inconveniente consciência de si mesmo. Ele guardou seu segredo com discrição e modéstia.
Quando deixou Samuel, Saul fez exatamente o que foi dito a ele. Quando encontrou a companhia de profetas, ele os acompanhou e então recebeu o batismo do Espírito, profetizando entre eles com genuíno entusiasmo religioso. Até mesmo quando seus parentes o trouxessem para que Samuel pudesse apresentá-lo ao povo, ele estava escondido entre as bagagens. Ele parecia o protótipo da modéstia e discrição.
Mas como bem sabemos, Saul permitiu que a escura sombra do ego arruinasse sua vida e destruísse seu reino e sua família. Como é enganoso o espírito humano! Mais tarde, falando da vida anterior de Saul, Samuel disse: “Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste por cabeça das tribos de Israel, e não te ungiu o SENHOR rei sobre ele?” (1 Samuel 15:17).
Não podemos duvidar que Samuel tenha sido sincero em dar crédito a Saul por uma medida de genuína humildade. Qual era então a falha? Uma coisa é ser pequenos aos nossos próprios olhos, mas é outra totalmente diferente não estar em vista. Verdadeira humildade não é pensar pouco de nós mesmos; é não pensarmos em nós mesmos de forma alguma. O que nós precisamos não é negar a nós mesmos, mas é crucificar a nós mesmos e então esquecermos que existimos. O verdadeiro espírito de Cristo em nós não nos reconhece mais como nós mesmos, mas que estamos em tão completa unidade como Senhor Jesus, que podemos verdadeiramente dizer: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:10).
A Mistura do que é Bom e o que é Mau
Mas o que podemos aprender da vida paradoxal de Saul? Que o estratagema mais sábio de Satanás é misturar o bom com o mau – cobrir seu veneno, como um remédio envolto em açúcar. Ele sabe que nunca aceitaríamos o que ele oferece em sua forma natural. Os agentes escolhidos de Satanás são aqueles que são atrativos e naturalmente amáveis. Esaú era mais atraente que Jacó, mas Jacó era o escolhido de Deus.
Uma pessoa pode ser bonita, sábia, culta, moral, útil, nobre e generosa, vivendo para si mesma, e no final, será destruída por si mesma como aconteceu com Saul. Satanás não deseja nossas almas inteiramente, apenas deseja parcelas dela. Ele está contente em tomar uma garantia de $1.000 se não conseguir adquirir tudo por $100.000. Ele pode esperar, e ir adquirindo o bem aos poucos, até que finalmente terá a posse total dele. Tudo o que ele quer é ter sua mão sobre o que deseja.
Mas Deus diz:
“Por isso, retirai-vos do meio deles,
separai-vos, diz o Senhor.
Não toqueis em coisas impuras;
e eu vos receberei,
serei vosso Pai,
e vós sereis para mim filhos e filhas,
diz o Senhor Todo-Poderoso”.
(2 Coríntios 6:17,18)
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Albert Benjamin Simpson (1843-1919) foi um pastor e escritor canadense. Simpson cresceu em meio à rígida tradição puritana e recebeu seu treinamento teológico em Toronto. Logo que concluiu seus estudos, foi ordenado pastor de uma das maiores congregações presbiterianas do Canadá. Aos 30 anos, deixou o Canadá e assumiu o púlpito da maior igreja presbiteriana de Louisville, no Kentucky/USA. Ali seu encargo pelo evangelismo começou a despertar, mas ele sentia que algo ainda lhe faltava, lutava com problemas de amor próprio, egoísmo e auto-confiança, e ansiava por vencer esses pecados em sua vida. Durante uma campanha com Major Whittle, do Exército da Salvação, ele viu e ouviu pregações com poder e manifestação da presença de Cristo, levando-o a experimentar um enorme vazio, algo que preparou o caminho para sua experiência mais marcante: da suficiência de Cristo. Em 1880 foi chamado pela Igreja presbiteriana da Thirteenth Street, em Nova Iorque, quando começou a sentir um encargo forte pelos pobres de seus arredores. Sofrendo enfermidades desde sua infância, era as vezes impedido por elas de até mesmo de concluir uma pregação. Então, Simpson experimentou a cura divina, parte integrante de sua ministração. Seu trabalho missionário cresceu, e com o tempo, ele estabeleceu um lar para pobres, alcoólatras, abrigo para mães solteiras e um orfanato, além de enviar missionários para diversas regiões do mundo.
Simpson foi um escritor prolífico, tendo uma extensa obra literária de aproximadamente 101 livros, além de poemas, hinos, artigos e livretos. Até nossos dias, ainda nos inspira e fortalece no sentido de buscar uma vida profunda e frutífera no Senhor. Para os que desejam conhecer mais de sua obra, os títulos “Jesus Cristo, Ele mesmo!”, “As quatro dimensões do Evangelho” são publicados pela Editora Betânia na língua portuguesa.
“Durante muito tempo orei a Deus pedindo a santificação, e muitas vezes achei que a havia recebido. Houve até uma ocasião em que senti algo diferente, e me agarrei àquela experiência, receoso de a perder. Fiquei acordado a noite toda, temendo que ela me escapasse, e é claro que, assim que a emoção e a sensação momentânea se esvaíram, ela desvaneceu também. Perdi-a, porque não me firmara em Jesus. Estivera bebendo pequenos goles de um imenso reservatório, quando poderia estar imerso na plenitude de Cristo… Então, resolvi despreocupar-me da santificação e da bênção em si, e passei a contemplar o próprio Cristo. Assim, em vez de ter uma experiência, entendi que, tendo Cristo, tinha Aquele que era maior do que uma necessidade momentânea, tinha o Cristo, que era tudo de que necessitava. Então O recebi, de uma vez para sempre” (A. B. Simpson, “Jesus Cristo, Ele mesmo!”).