Gino Iafrancesco
“Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 1:3).
Depois que vimos A Diferença entre Fundamento e Edificação, vamos olhar mais adiante: Devemos contender pela Fé, pelo Fundamento, e não por opiniões.
Vamos comparar duas expressões dadas por dois apóstolos diferentes, as quais se referem aos assuntos que estamos tratando. Uma está relacionada ao Fundamento, enquanto a outra sobre Edificação. A primeira é a passagem citada acima de Judas. A segunda é: “Ora, quanto ao que está enfermo na Fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas” (Rm 14:1 – ARC).
[Cabe salientar que a palavra traduzida na versão Almeida do texto de Judas é “batalhar”. Ela tem o mesmo significado de “contender”. A palavra grega original é epagonizomai, que indica uma intensidade. Essa palavra é uma forma intensificada da palavra agonizomai, que, na língua Portuguesa, pode ser traduzida como “agonizar”. O prefixo epa indica intensidade. Uma boa figura disso pode ser a de um atleta correndo da forma mais intensa possível (veja 1 Co 9:35 – mesma palavra)].
Em Judas, o autor fala que devemos contender pela Fé, enquanto Paulo, na Carta aos Romanos, diz que não devemos contender. Se não percebermos a diferença entre essas duas passagens, é possível não sabermos por que na Carta aos Romanos o assunto é tolerável e amplo, enquanto na Carta de Judas é tão rígido; considerando a intensidade do verbo original (veja acima), indicando que devemos contender ardentemente.
Podemos concluir que tudo o que é relativo à salvação, Fundamental, é o terreno pelo qual devemos contender ardentemente. Isso é muito sério. Não podemos descuidar disso. Ninguém pode colocar outro fundamento, uma vez que ele já está posto, que é Jesus Cristo (1 Co 3:11). Se alguém tem um posicionamento estranho em relação ao Fundamento, não devemos sequer recebê-lo em casa:
“Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más” (2 Jo 9,10).
Entretanto, em outros assuntos não fundamentais, devemos ter outro comportamento. O problema é que às vezes, não sabemos quando devemos contender e quando temos que deixar cada um edificar como escolher. Você deve edificar o melhor que pode, para que seja um vencedor e tenha um galardão completo. Mas, se a outra pessoa só está interessada no fato de que sua salvação não se perde, ainda que saiba que sofrerá detrimento no Tribunal de Cristo, que precisará passar por julgamento e que sua obra será queimada, deixe essa pessoa livre. Se ela quer viver assim, não podemos impedi-la. O Senhor deu o direito de escolha a cada um. Devemos respeitar a todos. Não podemos obrigar ninguém, atuar com manipulação, com assenhoramento. Não podemos agir com Nicolaísmo (domínio dos irmãos).
Se Deus deixou essa margem de liberdade referente à Edificação que se faz sobre o Fundamento, nós também temos que deixar esta margem na Igreja, porque ela não é nossa. A Igreja é primeiramente de Jesus Cristo, então, por consequência, Ela é nossa. Onde Ele estabeleceu rigor, a Igreja tem que obedecer a esse rigor. Onde Ele estabeleceu margem de liberdade, de opção, a Igreja tem que respeitar esta margem de liberdade e de opção.
Continua no próximo post.
Extraído do livreto esgotado: “A Relação entre Fundamento e Salvação, Edificação e Galardão”, de Gino Iafrancesco, publicado pela CCC Edições.